Irish Tatler: Caitriona Balfe fala sobre o #MeToo, Morgan Freeman e seu novo filme

  • 13 de junho de 2018

Caitriona Balfe estampa a capa da revista irlandesa Irish Tatler do mês de julho. Na matéria, a atriz fala com Shauna O’Halloran sobre a vida dela em Outlander, os planos para o casamento e por que as mulheres estão cansadas do comportamento de merda de Hollywood (nas palavras dela).

Confira a matéria traduzida pelo Portal Caitriona Balfe.

Capa de julho da revista Irish Tatler

Capa de julho da revista Irish Tatler

Por Shauna O’Halloran

Um par de calça Levi’s 501 com lavagem desgastada, Converses brancos e uma blusinha branca é tudo o que Caitriona Balfe precisa para detonar um dia de sessão de fotos no norte de Londres e ainda ter a equipe toda comentando o quão linda ela é na vida real. Isso é algo que eu não gosto de mencionar em minhas entrevistas – estamos aqui para descobrir a pessoa, afinal de contas – mas sinto que não menciona-lo seria uma pena, pois ela é muito deslumbrante, mesmo quando está de folga.

A super modelo da Irlanda

Não é uma grande surpresa, claro. A nativa de Monaghan já foi uma das modelos de passarela mais requisitadas do mundo, tendo sido descoberta por um olheiro da Ford Models, em Dublin. Aos 18 anos, ela estava abrindo e fechando desfiles em Paris para a Chanel, Moschino, Givenchy e Louis Vuitton, para citar alguns.

E essa humilde capa é apenas uma das muitas que ela apareceu, com as revistas Vogue, Harper’s Bazaar e Elle estrelando Caitriona ao longo dos anos. Então, não é de se estranhar que, literalmente, não havia uma foto ruim na edição do fotógrafo.

Os dias de Outlander

Hoje, no entanto, Caitriona Balfe é melhor conhecida pelo mundo todo como Claire Beauchamp Randall, a enfermeira viajante do tempo dos anos 1940 de Outlander que se apaixona por um elegante guerreiro das terra altas de nome Jamie Fraser, interpretado pelo seu colega de elenco, Sam Heughan.

Tem sido uma jornada muito louca!” Ela me diz, quando nos sentamos para a entrevista. Ela está de volta às gravações na Escócia para a sua quarta temporada e já sabemos que a quinta e a sexta então confirmada, então Claire será parte da vida de Caitriona por algum tempo. “Eu fui escolhida tarde no processo. Fui escolhida em 11 de setembro e estava na Escócia [para prova de roupas e gravações] em 15 de setembro de 2013. Eu acho que soube dois dias antes deles anunciarem!“, ela diz sobre a rápida entrada em Outlander.

A série, agora na quarta temporada, é baseada nos livros de Diana Gabaldon e dizer que ela tem um enorme fandom é um eufemismo. Tendo começado a atuar após a sua carreira de modelo, Outlander foi o primeiro grande papel de Caitriona e a impulsionou para uma estratosfera com mais de cinco milhões de telespectadores por episódio. Como, eu me pergunto, é isso?

Não demorou muito, no entanto, para Caitriona perceber o alcance que o seu novo papel teria. “Após termos filmado uns quatro episódios, Sam e eu fomos levados à LA e fizemos um evento de fãs. Ninguém tinha assistido nada e havia mais de 2 mil pessoas nesse evento… que não haviam assistido um minuto de gravações. Entramos no palco e todos estavam gritando!

A base de fãs ficou ao lado deles conforme as temporadas passaram e Outlander ganhou vários prêmios. Caitriona, também, foi amplamente reconhecida por seu papel com mais de 20 indicações e uma série de prêmios de Melhor Atriz de instituições como o People’s Choice Awards, o Globo de Ouro, o Saturn Awards, o IFTA e o BAFTA.

Cait & Sam, pessoal?

Um dos pontos notáveis da série de drama é a química brilhante na tela entre ela e Heughan, durante as suas muitas cenas quentes juntos. Tanto é que as pessoas têm dificuldade em acreditar que eles não são um casal na vida real. Não importa o quanto os atores insistam.

É legal que as pessoas vejam algo nisso, mas, sabe, nós sempre fomos apenas amigos. E eu disse isso desde o início, mas as pessoas não queriam ouvir!” Mesmo assim, deve ser difícil, após quatro anos gravando cenas sexys com alguém, não se envolver em alguma espécie de romance.

Saímos para andar,” Caitriona explica sobre como o acordo foi feito no início. “Ambos tivemos que ir à Londres logo antes de ter que começar a gravar, eu estava fazendo a minha segunda permanente da semana e ele estava tingindo o cabelo, provavelmente, pela 15ª vez naquele mês. Nos encontramos em Kensington e fomos para uma longa caminhada no parque. Eu estava lá com a minha permanente de poodle e ele com um tipo horrível de ruivo no cabelo e falamos, ‘Quer saber, quem sabe o que isso será, mas estaremos nisso juntos e temos que apoiar um ao outro.’ E desse dia em diante, sempre apoiamos.

Um momento fofo que levou a uma amizade duradoura e que provavelmente foi fundamental para o sucesso de Outlander. “As séries que tiveram sucesso, acho que você sempre vê que eles ficam unidos. No momento em que você deixa o ego ou o orgulho ou todo esse tipo de coisa atrapalhar, acho que isso pode realmente azedar as coisas,” ela diz honestamente.

Caitriona sobre o #MeToo

É preciso ser dito, não há ego em Caitriona Balfe e como protagonista da série, é fácil imaginar que ela define o tom para tudo o que está envolvido. A atmosfera no set, ela diz, é solidária e firme, embora ela dolorosamente saiba que não é bem assim em todos os sets de séries de sucesso de Hollywood.

O nosso trabalho é muito difícil e estamos em condições árduas, como quando você está lá fora na chuva ou na neve, o que acontece! Ter as pessoas serem solidárias umas com as outras e se preocuparem com os outros, isso faz uma enorme diferença.

Eu conheço uma pessoa que trabalhou em uma série como protagonista masculino e ele e a protagonista feminina nunca conversavam, eles literalmente não conversavam um com o outro a não ser que estivessem em cena. Eu não consigo imaginar querer estar em uma situação como essa, não consigo imaginar acordar de manhã e pensar que eu tenho que ir trabalhar com alguém que nem se quer falará comigo. Isso é horrível.

Mas as histórias são abundantes; mesmo antes do #MeToo aparecer, as celebridades e o mau comportamento no set pareciam andar de mãos dadas. E isso é matéria-prima excelente e escabrosa de tabloides. E as mulheres, notoriamente, parecem receber a pior parte do negócio, em tudo, desde padrões de respeito a salários.

Eu acho que todos estão acordando para o fato de que eles não podem se safar das coisas,” Caitriona adiciona. “Eu, obviamente, cheguei a esse ponto da minha vida um pouco mais tarde, então eu sempre me senti muito confortável em me defender e falar por mim, mas pode existir um pouco de dois pesos e duas medidas. Mas eu não acho, quero dizer, vou enfatizar isso, nem sempre são os homens reforçando isso. Tivemos diretores homens e produtores homens que são muito mais sensíveis e solícitos do que, às vezes, as diretoras e produtoras são. Eu não acho, necessariamente, que haja uma divisória quanto ao sexo; nem todas as mulheres apoiam as mulheres, pois essa não é a minha experiência. Eu acho que se trata mesmo das pessoas.

E dói mais, quando é uma mulher que não dá o apoio? “Sim, eu acho que você espera mais. E imagino que, às vezes, elas pensam que por serem mulheres, elas não acham que estão sendo discriminatórias, mas se o que você está pedindo saiu completamente da linha…

Nos mundos hierárquicos das modelos e das atrizes, as pessoas iniciando as carreiras nos degraus inferiores são as mais vulneráveis a maus-tratos. Caitriona observa que ela passou por isso quando era uma jovem modelo e a sua primeira carreira a deixou com algumas feridas a serem cicatrizadas.

Eu me lembro de uma das minhas primeiras sessões de fotos em Dublin. Eu era tão nova e me lembro de retornar dela e minha irmã ficar, ‘Onde você esteve o dia todo?’ Eu havia sido enviada por aí com um fotógrafo desconhecido que era mais velho que eu, sem conhecimento algum sobre onde eu estava indo, o que era esperado. Eu fui jogada aos lobos com 18 anos.

Os anos de modelo

Foi nessa idade que ela começou a viajar, também, para Paris e Milão e com pouca ou nenhuma estrutura de apoio. “É simplesmente incrível, quando eu relembro isso, como eu passei por tudo isso, porque você é mandada por aí, literalmente sozinha, perambulando por cidades estranhas, onde você não conhece a língua. É apenas esperado que você se vire sozinha. Era o Velho Oeste e você tinha sorte se tivesse um emprego. Havia uma discrepância de poder: a agência deveria estar te protegendo, mas era quase como se você precisasse agradá-los para conseguir os trabalhos. Eu acho que é por isso que muitas garotas que passaram por essa experiência são duronas,” ela acrescenta, também referindo-se a si mesma, embora essa resistência não tenha vindo sem um custo.

Quando eu deixei essa indústria, me mudei para LA e sou tão grata que eu pude tirar um ano… muito desse tempo foi apenas me desfazendo de muitos dos problemas mentais que eu havia conseguido com a indústria, porque a sua autoconfiança e sua autoestima estão no lixo, depois de estar nisso por tanto tempo. A maioria das modelos que conheço têm uma autoestima horrível, o que é a coisa mais louca.

Ainda bem, tanto nas passarelas quanto na atuação, as coisas estão mudando. Como alguém que está na estratosfera de Hollywood e esteve na companhia de pessoas como Weinstein e mais, Caitriona tem experiência em primeira mão de estar com as pessoas no centro da tempestade do #MeToo.

Muitos dos nomes que surgiram, é estranho, pois você meio que fica ‘Ah, é, não é surpresa.’ Com alguém como Morgan Freeman; eu cresci assistindo ele e ele tem sido aquela voz que acalma a todos. Mas eu já havia ouvido rumores. Ninguém está acima da lei e o que eu espero é que todas essas coisas passem por um processo, pois acho que a pior coisa é que entremos nessa situação em que há uma mentalidade de massa e comecemos a ser o juiz, o júri e o carrasco na mídia social, isso nunca é o jeito certo de fazer as coisas.

Mas acho que tem havido uma mudança real e que as pessoas não vão mais tolerar comportamento de merda. E elas não deveriam.” A única coisa que um nome importante e influência proporcionam às pessoas é a habilidade de chamar a atenção para situações que merecem mais atenção.

Uma boa causa

Isso é algo que Caitriona tem muita ciência e desde que os seus fãs de Outlander perguntaram ‘quem podemos apoiar em seu nome’, ela se esforçou para descobrir uma instituição de caridade que ela pudesse ser uma embaixadora. Como resultado, ela agora é patrocinadora do World Child Cancer e viajou para Gana, no ano passado, para ver dois dos hospitais onde a instituição de caridade atua.

É uma lição de humildade quando você vê os diferentes tipos de cuidado que você pode necessitar, se alguma coisa der errado em sua vida, só por conta de onde você nasceu,” ela diz sobre a experiência, mas é igualmente rápida em minimizar o papel dela de patrocinadora se comparado ao das pessoas que trabalham em campo, apesar de usar o seu próprio tempo e perfil para sensibilizar e arrecadar fundos para a organização.

Eu me sinto muito grata por poder ajudar, as pessoas nas trincheiras são quem trabalham no dia-a-dia e é super impressionante, porque eles não recebem muito crédito por isso.

Confira o Twitter de Caitriona e você verá o quão apaixonada ela é por isso, além de ser uma grande apoiadora de outras causas: ela foi sincera sobre o Repeal (revogar a Oitava Emenda da Constituição irlandesa para legalizar o aborto), ela apóia a escolha ética de moda e promove um estilo de vida livre de carne e laticínios.

Eu acredito que, não importa o que você faça, você deve ser um cidadão responsável do mundo,” ela diz. “Acho que muito das minhas mídias sociais está promovendo questões e causas nas quais eu acredito. Quanto a minha vida mais privada, francamente, eu não sou interessante, então eu não gosto de fazer selfies, o meu companheiro é super privado, então ele não está em nenhuma mídia social e não quer estar, então nada é dito sobre ele. Então, é, essa é quem eu sou naturalmente!

Um caso pessoal

É claro, conforme a conversa continua, o quanto pé no chão Caitriona é. Ela é fortemente orgulhosa de ser irlandesa e usa isso para começar uma conversa em todo o mundo (“Nós dominamos a boa vontade, as pessoas genuinamente gostam de nós!“) e enquanto ela lamenta o quanto o nome dela é detonado, ela sente falta do acento que ela tirou há alguns anos. “Estou arrasada quanto a isso!” ela diz, antes de informar que a tecnologia teve um papel a desempenhar na sua remoção.

Nos dias iniciais dos computadores, eu não sabia como colocá-lo! Eu acabei de aprender há alguns meses, tipo ohhh é aquele botão ali. Então, talvez eu traga o acento agudo de volta.” E ela não descartou um casamento futuro na Irlanda, a atriz ficou noiva recentemente do produtor musical Tony McGill, mas os planos para o casamento ainda não foram decididos. Será que ela consideraria voltar para a Irlanda para se casar?

“Se você colocar uma luz solar sobre ela, sim, eu adoraria!” Ela ri. No entanto, o planejamento do casamento não é algo que interesse ela, e não atrai conversas entusiasmadas e lista de desejos. “Eu adoraria apenas ter todos os meus amigos e família (ao meu lado) e ter uma ótima festa,” ela esclarece ao parecer pouco entusiasmada em planejar o dia perfeito dela. “Eu acho que o lado da produção dele é muito parecido com o trabalho!”

E encontrar um período que satisfaça as duas agendas também está sendo desafiador, com Caitriona prestes a filmar em Los Angeles com Matt Damon e Christian Bale. É um filme biográfico sobre o mecânico e motorista Ken Miles (Bale) e o conflito entre a Ford e a Ferrari durante a década de 1960. “Eu interpreto a esposa de Christian Bale e James Mangold [Jonny & June, Logan] está dirigindo. Ele se passa nos anos 60, trata-se sobre a Le Mans, a corrida de 24 horas, então há muitos carros velozes, homens gostosos e eu!” Ela ri.

“Eu tenho assistido muitos documentários sobre a Le Mans, o que é muito legal.”

E essa é Caitriona: totalmente inabalável, aparentemente, pela perspectiva de trabalhar com alguns dos atores e diretores mais famosos de Hollywood e, ainda assim, ser nerd e pesquisar para que ela possa estar preparada no dia. Ah, e conscientemente curtindo, também. Com mais projetos em andamento, essa demanda só vai aumentar, mas de uma coisa posso ter certeza: para ela mesma, Caitriona Balfe sempre será verdadeira.

Esta entrevista aparece na edição de julho da revista Irish Tatler.

Fotografia por Conor Clinch; figurino por Dee Moran; maquiagem por Mary Greenwell, usando Chanel Hydra Beauty Essence e Cruise 2018 Makeup Collection; cabelo por Declan Shiels; unhas por Sophia Stylianou, usando Chanel Le Vernis Nail Colour

Confira os bastidores da sessão de fotos de Caitriona Balfe.