Delta Sky Magazine: entrevista com Caitriona Balfe, “É a hora dela”

  • 03 de novembro de 2019

De interpretar a heroína que viaja no tempo de Outlander para a forte e sincera esposa de um piloto em Ford v Ferrari, Caitriona Balfe está apostando tudo.

Caitriona Balfe é uma trabalhadora incansável. No final de sua adolescência, ela desfilou eu mais de 250 desfiles para algumas das marcas mais prestigiosas do mundo, incluindo Louis Vuitton, Chanel e Givenchy. E nesses últimos 5 anos? Por mais de 55 episódios e quatro temporadas, a atriz que nasceu em Dublin estrelou como Claire Fraser, a heroica, doce e completamente intransigente viajante do tempo na série histórica-fictícia aclamada da Starz, Outlander, baseada na série de livros homônimo.

É uma vida sem parar para a atriz de 40 anos, cujo trabalho em Outlander lhe rendeu quatro indicações consecutivas no Globo de Ouro para melhor atriz de TV. No entanto, para seus fãs, significa que eles raramente a viram em trabalhos fora da série; ela diz que só aceita papéis com os quais ela verdadeiramente se apaixona. Um desses papéis é o mais recente, no filme dirigido por James Mangold, Ford v Ferrari. Balfe interpreta Mollie Miles, a esposa igualitária, brincalhona, punhos de ferro e solidária do icônico piloto de corrida inglês Ken Miles (Christian Bale) que, com a orientação do ícone automotivo Carroll Shelby (Matt Damon) e o apoio de Henry Ford II, derrotou o eterno campeão da Ferrari nas 24 Horas de Le Mans, em 1966, na França.

Balfe, cujo último filme foi Jogo do Dinheiro, em 2016, diz que equilibrar com sucesso seus vários papéis se resume a manter um equilíbrio saudável entre a vida e o trabalho. “Como atriz, você não pode sempre estar em modo de produção“, ela diz. “Você precisa alimentar sua criatividade vivendo um pouco“.

Claire é uma mulher forte e auto-empoderada em Outlander, então eu fiquei surpresa, de início, em saber que você aceitou o papel de Mollie Miles, em Ford v Ferrari. O papel poderia ter sido secundário, mas você a lança com uma força palpável e um lado autônomo.

Obviamente, esse mundo sempre foi tão dominado pelos homens. E, de verdade, ainda é tão dominado pelos homens. Mas o que eu realmente queria retratar e mostrar nesse filme é que esses homens que fizeram coisas extraordinárias nunca fizeram essas coisas no vazio. Todas as decisões que Ken tomou e todas as vezes que ele conseguiu correr e conseguiu ultrapassar os limites e ficar mais tempo fora foi porque a Mollie estava lá, o apoiando e criando o filho deles, se certificando de que as contas fossem pagas e que eles não perderiam a casa. Era uma época em que tantas mulheres tinham que desistir de suas ambições e sonhos para que seus maridos pudessem seguir os deles. Eu olho para o casamento dos meus pais: meu pai era o ganha-pão, mas a minha mãe era a pessoa que mantinha a família unida e tudo funcionando.

James Mangold também dirigiu Garota, Interrompida. Foi um conforto saber que ele dá valor a personagens femininas complexas e de muitos aspectos?

Oh, com certeza. Saber que Jim [Mangold] dirigiria o filme foi um chamariz para mim. Porque Garita, Interrompida esteve muito na minha vida quando ele foi lançado. E também, claro, ele fez Johnny & June. Mesmo que elas não sejam as personagens centrais, ele tem uma maneira incrível de fazer com que as mulheres nos filmes dele tenha uma vida plena e um propósito. Achei que essa era a Mollie. Ela era a pessoa que dirigia o relacionamento dela e do Ken de volta ao centro e os mantinha no caminho certo. Parecia que Jim lutaria de verdade para tornar este papel o que ele estava no roteiro. Porque muitas vezes você lê roteiros e o papel é de uma maneira, mas quando você começa a gravar, é tipo, “Oh, me desculpe, essa cena foi cortada. E é, essa outra cena também foi cortada.

Para o filme, você conversou com o filho verdadeiro de Mollie, Peter Miles. O que ele te contou sobre ela? 

Que o Ken apareceu no primeiro encontro deles em um carro vintage e ele quebrou, eles se perderam e ela teve problemas porque chegou em casa tão tarde (risos). Então, essa vida de caos e carros esteve lá desde o primeiro dia do relacionamento deles.

Você está familiarizada com colegas de cenas incríveis, incluindo Sam Heughan, de Outlander. E já há conversa de Oscar em torno do retrato de Christian Bale de Ken Miles.

Acho que Christian é um dos melhores atores que temos no momento – e provavelmente de toda a nossa geração. Mas ele também é um ator tão presente: quando você está em cenas com ele, ele está lá 100%. Ele te dá tudo em todas as tomadas. É uma alegria trabalhar com alguém assim. Ele é tão humilde e focado no trabalho que foi muito fácil chegar lá, arregaçar as mangas e criar o que parece ser essa dinâmica orgânica para o relacionamento deles.

Estar em uma série como Outlander limitou os projetos de fora que você pode aceitar?

Bem, eu não acho que as pessoas estão batendo na minha porta o tempo todo, mas é um equilíbrio. Eu tive uma pausa longa entre a primeira e a segunda temporada e foi quando eu gravei Jogo do Dinheiro. Entre a segunda e a terceira temporada, foi uma pausa muito mais curta e escolhi descansar, pois eu estava exausta na época. E novamente, entre a terceira e a quarta, mal tivemos uma pausa. Se algo surgisse que eu pensasse, “Oh, meu Deus, eu tenho que fazer isso, não importa o quê,” aí, sim, eu provavelmente teria feito, não dormido e me levado a exaustão. Se você não está comprometido com o personagem e com a história, vai parecer muito superficial. Você precisa de algo que te mova.

Se nada mais, o ritmo e a agenda de gravações de um filme deve ser muito diferente.

Com Outlander, é quase como se gravassemos um filme a cada cinco semanas. Acho que há algo em estar na TV e ter que passar pelas coisas tão rapidamente e usar os seus instintos; é muito do imediatismo. E, então, em Ford v Ferrari, foi tipo, “Espera, temos três meses para gravar 180 páginas?” (risos) Você realmente pode se sentar com o seu personagem, questionar as suas escolhas e, com sorte, chegar a algo que parece honesto de verdade. Digo, talvez haja algo na ideia de “o primeiro instinto é o correto”. Mas foi legal poder me sentar com o material por um longo período de tempo e digeri-lo.

Você tem visto uma evolução no calibre da programação televisiva?

Acho que somos sortudos que as linhas entre a TV e o cinema estão se misturando em termos de qualidade do roteiro e da produção. E tive tanta sorte de ter aparecido durante este período de ouro da TV e especificamente com Outlander. Mas devo dizer que é um pouco triste que isso esteja acontecendo às custas de ótima cinematografia. Porque acho que estamos perdendo aquele ótimo meio-termo para os filmes – onde não é aquele filme da franquia de super-heróis que fará sucesso e arrecadará dinheiro com produtos. Há algo lindo nesses tipo de filmes compactos, também. Aqueles que você pode assistir e se apaixonar pelos personagens e ser levado em uma jornada por duas horas e meia. Eu me sentiria muito desapontada se perdêssemos isso completamente.

Outlander é gravado principalmente na Escócia. Você fez de lá a sua casa permanente?

Gravamos lá por 10 a 11 meses todos os anos, então, obviamente, a maior parte do tempo, moro na Escócia. E sempre que estamos em pausa, eu geralmente tento voltar aos Estados Unidos, pois morei lá por 13 anos antes de começar a série. Então lá é meio que a minha casa de fato. Acho que no começo, pareceu como uma pausa longa e prolongada da minha realidade, porque eu estava morando em Los Angeles. Quando viemos gravar a primeira temporada, sabíamos apenas que tínhamos uma temporada encomendada. Então eu mergulhei nessa bolha por um ano e, aí, você sai do outro lado e fica, “Oh, voltarei para a minha vida agora.” A certa altura, todos na série perceberam, “Isso poderia ficar no ar por muito tempo e temos algo especial aqui.” Neste momento, você tem que pensar nisso como a sua nova vida e sua cidade. E há algo muito bom nisso. Pois, nesse momento, você começa a olhar ao redor e a estabelecer algumas raízes.

E agora você é uma escocesa comprovada.

Bem, eu provavelmente tive um apartamento temporário lá por mais tempo do que deveria (risos). Felizmente, agora finalmente tenho minha própria casa.

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