Harper’s Bazaar: Caitriona Balfe está evoluindo com ‘Outlander’

  • 31 de dezembro de 2018

Enquanto o último episódio dá um novo rumo à série, Balfe reflete sobre quatro temporadas com a Claire e olha para o futuro

Em 30 de dezembro de 1996, a Delacorte Press lançou Os Tambores do Outono (Drums of Autumn), o quarto livro da série de sucesso de Diana Gabaldon, Outlander. No último domingo (30), 22 anos após sua publicação, as cenas mais esperadas, amadas, cativantes e frustrantes desse livro ganharão vida na popular adaptação de TV da série. Apesar do episódio girar em torno da dinâmica instável entre uma jovem e o pai que ela nunca conheceu, é a mãe, Claire Fraser, e a mulher que a interpreta, Caitriona Balfe – o elemento decisivo da série, a força gravitacional que mantém o mundo de Outlander no caminho certo e os espectadores voltando para 51 episódios e além – quem discretamente dá forma ao episódio.

Intitulado “The Birds and the Bees“, o episódio foca em Brianna Randall Fraser (Sophie Skelton), nascida no século XX, que procura sua mãe Claire (Balfe) e seu pai Jamie (Sam Heughan) em 1769, na Carolina do Norte. Uma polêmica comunhão se desenrola entre a teimosa americana dos anos 1970 e o pai escocês das Terras Altas que ela conhece pela primeira vez. Confuso? Bem-vindo ao mundo de Outlander, no qual um certo subgrupo da população pode viajar no tempo com a ajuda de monumentos pré-históricos específicos. Mais sobre isso daqui a pouco.

Foto em destaque: macacão e brincos, Tom Ford. Abaixo: terno, Nina Ricci; sapatos, Prabal Gurung; anel, Vintage Georg Jensen Nanna Ditzel Ring from Beladora.

É isso o que os fãs que devoram os livros de Gabaldon e acompanham cada movimento do elenco (um fandom que o New York Times descreve como “uma das comunidades de fãs mais apaixonadas da televisão”) esperaram por mais de duas décadas: Claire e Jamie, o casal perfeito, se reunirem com a filha para completar a família Fraser. “Quando a Brianna retorna, você vê a Claire olhando ao redor da mesa tipo, ‘Ai, meu Deus. Eu finalmente consegui ter tudo,” explica Balfe, ao telefone, de Los Angeles, depois de um mês atordoante promovendo a quarta temporada de Outlander.

É uma imagem que Claire nunca se permitiu imaginar e o caminho para esse momento é pavimentado com três temporadas e meia de cronologia vibrante e árvores genealógicas emaranhadas.

Embora o início do relacionamento entre Brianna e Jamie – complicado por dois séculos de bagagem, incluindo a sombra de outra figura paterna – seja o tema deste episódio, há algo que causa arrepio na reunião de Claire e Bree. Claire – que passou por muitas reviravoltas e deveria, a essa altura, ser fisicamente incapaz de se chocar – fica muito e verdadeiramente atordoada. Embora Gabaldon escreveu Claire como uma personagem cujo rosto trai cada emoção dela, Balfe sempre interpretou o papel de uma ligeira distância, com uma dignidade indiferente, traída apenas quando Claire decide falar o que pensa. No entanto, nesta cena, não há pretensão e nem barreira emocional, apenas um intenso alívio. Ela é incrivelmente emocionante, com Skelton quase derrubando Balfe durante o abraço. (“Tudo no momento está naquele abraço que ela dá na mãe,” diz Skelton. “Corri até ela e me joguei, como Bree faria, mas acho que a Cait quase caiu.“)

É, talvez, a primeira interação verdadeiramente desinibida entre essas personagens. O relacionamento delas no século XX era tenso, na melhor das hipóteses, com a verdade sobre o verdadeiro pai de Brianna aumentando o abismo entre a filha e a mãe viciada em trabalho quase além do reparo. Foi necessário o que ambas acharam que seria uma separação permanente para aproximá-las mais do que nunca, com a reunião delas fechando os últimos remanescentes dessa lacuna. “Realmente é a Claire e a Brianna se encontrando em condições iguais,” explica Balfe. “Dessa vez é de mulher para mulher, ao passo que no final da segunda temporada ela ainda estava tentando criar uma filha, você ainda está tentando guiá-los, tentando ensiná-los. Quando você é mãe de um adulto, há aquela amizade que entra nisso. A Claire sabe que não pode mais mandar nela ou lhe dizer como viver a vida. Ela vê que ela é essa mulher completa que ainda precisa de cuidados e consolo da mãe, mas, ao mesmo ponto, Brianna é uma mulher agora. E acho que a Claire reconhece isso.

Terno e casaco, Fendi; aneis, Melinda Maria e da própria stylist.

Os episódios anteriores desta temporada mostram Jamie e Claire montando uma casa onde eles podem realmente receber Brianna, com o casal tomando a decisão de ficar sossegado. Eles ganham um pedaço de terra no interior da Carolina do Norte e formam o Fraser’s Ridge, uma fazenda onde Jamie pode plantar, enquanto Claire pratica a medicina. “É tão bom ver este casal encaminhado… Jamie e Claire construíram uma base sólida não apenas no relacionamento deles, mas agora nesta família, nesta comunidade,” diz Balfe. “Há um contentamento e uma natureza resolvida que nunca pudemos explorar antes.” Enquanto as temporadas anteriores mostraram Jamie e Claire cruzando as Terras Altas e partes da Europa continental antes de sua separação na terceira temporada, a quarta permite que o casal relaxe e, claro, se envolva nessa intimidade que os fãs esperam e desejam. “Na primeira e segunda temporada, a Claire estava reagindo constantemente aos eventos acontecendo ao redor dela e, então, na temporada passada foi o investimento em sua vida profissional e sua filha, mas à custa da realização pessoal de um modo íntimo,” Balfe diz. “Esta temporada é sobre o autocuidado, nunca foi sobre isso antes.

Balfe admite que ela lutou com Claire, uma mulher igualmente eficiente empunhando uma faca contra criminosos quanto um bisturi em uma sala de cirurgia, aceitando o papel de dona de casa. “Eu acho que todos nós podemos cair em armadilhas em nossas próprias vidas e em nós mesmos e, como atriz, você pode cair em armadilhas com as personagens que você fica tipo, ‘Ah não, é assim que elas são e é assim que eu as vejo’. Quando li os primeiros roteiros, levei um segundo para entender a mudança. Mas eu acho que isso é o que é tão emocionante em estar em uma série como essa, [isso] te mantém alerta e te desafia a cada temporada,” ela diz. “É encontrar o valor no que estão te dando para explorar naquele momento em particular. Nesta temporada, ela está descobrindo o valor em cuidar desse lado de si mesma que ela teve que negligenciar por 20 anos… Esta é a primeira temporada em que vemos todas as partes dela se unirem de uma maneira mais coesa.

Em “The Birds and the Bees“, é a atuação de Balfe tanto como mediadora como uma mãe lutando com a mudança na dinâmica familiar, que rapidamente se transforma em preocupação pelo bem-estar de sua filha, que lembra os telespectadores por quê Claire é o núcleo da série. Apesar desse retrato de uma família feliz, os telespectadores sabem que há sofrimento no futuro dos Frasers. O que deveria ser uma ocasião de comemoração para Brianna é marcada pelo impacto do episódio da semana passada, que mostrou seu estupro por um pirata, Stephen Bonnet, com graves ligações com seus pais. Bonnet roubou o anel de casamento de Claire na estreia da quarta temporada e, quando Brianna o conheceu e tentou pagar para recuperá-lo, o pirata a atacou. Skelton atua de maneira extraordinária como uma jovem atordoada pela tristeza e, quando Bree finalmente conta à mãe o que ela passou, a cena de quatro minutos é libertadora tanto para a espectadora quanto para o público. “Toda essa história foi tão angustiante,” diz Balfe. “O que é tão traiçoeiro sobre a agressão sexual é que todos os relacionamento na vida da pessoa pagam um preço.

As atuações de Balfe e Skelton são de arrepiar e o relacionamento entre os atores demonstra uma verdadeira camaradagem. “Você tem atores muito generosos [nesta série] e Caitriona é uma deles,” diz Skelton. “Mesmo quando não é a tomada dela, ela dá 100% de desempenho para você se apoiar. Ela não se cansa por você. Se ela está chorando na tomada dela, ela vai chorar na sua, pois você está reagindo à mesma coisa. Nem todos os atores são assim.

É uma atuação que remete algumas das melhores de Balfe na série: pense em sua dura convicção diante da confusão geral da primeira temporada ou da consequência do natimorto de sua primeira filha, no episódio da segunda temporada “Faith“. É fácil ver por que ela recebeu quatro indicações consecutivas ao Globo de Ouro. (A mais recente, para a atual temporada, será premiada no próximo domingo.) Sua energia e tenacidade têm sido um dos fatores mais atraentes da série desde 2014, sem mencionar sua química com o protagonista Sam Heughan e suas cenas de sexo ardentes, cuja atração está no olhar feminino inerente da série. “De alguma forma, essa série foi inovadora no começo, porque a personagem feminina foi mais desenvolvida do que já vimos, quando se está mostrando esses relacionamentos,” Balfe se lembra com carinho. “Víamos o sexo através dos olhos dela, víamos todas essas coisas através dos olhos dela. É bastante chocante que em 2014 isso era um pouco revolucionário. Eu sei que não fomos a única série fazendo isso, mas fomos uma das únicas.

Chapéu e casaco: Saint Laurent.

O episódio de domingo (30) explora alguns dos materiais mais sombrios já exibidos na série, mas Balfe sempre tem material elevado que combinaria com o território de novela, trazendo profundidade, nuance e seriedade a todas as cenas. A reação de Claire às notícias de Brianna é uma sombra para a sua dor após a morte de Faith; Claire não pode se entregar completamente à raiva, porque ela tem que ser forte por sua filha que está sofrendo. “Para Claire, como mãe, saber que de alguma forma as suas ações… Claire não pode deixar de assumir a culpa em muitos aspectos e a dor de que ela não pode consertar isso, de que ela não pode resolver,” Balfe diz. “Esse deve ser o pior pesadelo de toda mãe, quando algo acontece com seu filho e que você não pode protegê-lo.

Outlander mostrou vários personagens principais e de apoio passarem por estupros em temporadas passadas, com críticos e fãs criticando a série e seu material de origem pelo uso da violência sexual como um dispositivo de enredo. O ataque de Brianna no episódio da semana passada teve críticas de todo tipo, com alguns elogiando a decisão de não mostrar o ato em si, enquanto outros questionaram a necessidade de se quer incluir o estupro. “É importante discutir esses tipos de coisas e explorá-las, pois, infelizmente, elas são muito reais em nosso mundo,” diz Balfe sobre o enredo. “Cruzamos essa linha difícil porque estamos seguindo um caminho que foi estabelecido nos livros e ela se passa em uma época em que a agressão sexual era uma arma usada livremente e ainda é em muitos lugares hoje. Temos que contar essas histórias porque elas são parte integrante da história geral. Mas há um esforço conjunto feito em nome dos escritores, dos produtores e dos atores de que, se formos fazer, encontraremos a melhor maneira.

Balfe também vê essa história como uma chance de transmitir uma verdade vital: “A culpa da agressão sexual não está nas vítimas. Eu acho que essa é a mensagem mais importante, especialmente neste episódio: não podemos culpar as vítimas. E isso teria sido uma reação tão comum naquela época. É bom ver como a Claire guia essa conversa para tomar o rumo completamente contrário a isso, especialmente quando está contando ao Jamie.

Ao longo da quarta temporada, Outlander se separou lentamente do foco em Claire e Jamie para dar espaço para Brianna e Roger; uma expansão da dupla original para um quarteto. “A história é tanto de Brianna e Roger como é de Claire e Jamie,” diz Balfe. “A série se desenvolveu para contar a história desse casal e mais, dessa família.

Esta temporada também marcou uma primeira vez, com um episódio em que nem Balfe e nem Heughan aparecem. “Ficamos tão felizes. Ficamos tipo, ‘Yay! Uma pausa!’” Balfe diz, rindo. Ela relata os horários de gravações cansativos das primeiras temporadas da série, as “quinzenas de onze dias” que constituíam gravações de seis dias e cinco dias consecutivos. “Há um nível de exaustão que toma conta,” ela diz. “Acho que todos os atores dirão isso quando se está em uma produção assim, é como se você saísse do mundo real e vivesse nessa bolha. Você pode fazer isso por um certo período de tempo, sendo feliz, mas, depois de alguns anos, você percebe que a vida real está batendo na porta e exigindo atenção.

Balfe está empolgada com as oportunidades que essa mudança proporcionará a ela, na verdade, ela espera conhecer melhor a Claire. “No futuro, será um conjunto de histórias muito mais equilibradas. Eu terei meus momentos de mergulhar fundo na Claire, mas também haverá momentos em que eu terei que dar um passo para o lado e deixar um dos outros personagens fazer isso,” ela diz. Ela se lembra do método de Tobias Menzies na primeira temporada: “[Ele] chegava e tinha tido duas, três semanas de folga. Ele pegava o personagem dele e olhava para ele de sete, oito pontos de vista diferentes. A maneira de trabalhar dele era incrível. Acho que a única coisa que isso me dá o luxo é de me sentar com a personagem de uma maneira diferente e ser capaz de abordar o processo de um jeito bastante diverso.” Para os fãs que já estão protestando, não entrem em pânico: “E isso só será para o benefício da série,” Balfe promete: “Qualquer mundo que tem mais nuances e é olhado por uma visão mais ampla só pode ser melhor.

Terno, Giorgio Armani; blusa, Dior.

Balfe também espera que a expansão do universo Outlander ofereça oportunidades para ela, junto com Heughan, de explorar papéis além de atuar, dentro da produção da série. “Nós dois gostaríamos de mais responsabilidade. Eu definitivamente adoraria dirigir no futuro e acho que ele também gostaria. Eu adoraria estar no set com Sam Heughan me dando ordens,” ela diz, rindo. Balfe é, naturalmente, ferozmente protetora de Claire e a influência dela vai além da câmera, para a sala dos escritores: “É importante opinar. Construímos esses personagens desde o primeiro dia e acho que sentimos que é [importante] manter essa conexão através de todas as temporadas, especialmente quando muitos de nossos principais escritores não estão mais na série e temos novos escritores chegando.

Pergunto a Balfe se o trabalho por trás da câmera era algo que ela considerava quando começou a carreira: “Acho que sempre tive essa ambição secreta em algum lugar, mas muito disso é o medo de, em primeiro lugar, expressa-la. E, então, o medo de, ‘Eu seria capaz de fazer isso?’ Mas estar no set o tempo todo, as horas que acumulamos agora, fazendo essa série, é um aprendizado. Você pode observar as pessoas no auge de suas carreiras. Eu tento ser como uma esponja e absorver o máximo que posso quando estou trabalhando com outras pessoas. Há uma confiança que vem ao observar outras pessoas fazendo isso todos os dias e aprender com elas. Você sente tipo, ‘Oh, eu posso fazer isso.’

E isso vai além do pessoal. Como a Claire, Balfe é destemidamente franca, o Twitter dela é uma janela para as suas opiniões e paixões. Isso se estende às discussões em torno do #MeToo, da #TimesUp e das mulheres no [mundo do] entretenimento. “O que está acontecendo no momento e essas conversas sobre a necessidade de mais mulheres, [há uma] percepção de, ‘Bem, se eu não me posicionar e fizer algo, como eu posso falar que precisamos de mais mulheres?’ Você percebe que cada um de nós tem a responsabilidade de romper essas barreiras do medo. Uma coisa é falar sobre isso e a outra é levantar a bunda e realmente fazer algo,” ela diz rindo. “Então, eu estou levantando a bunda.

Outlander foi oficialmente renovada para as temporadas 5 e 6 em maio, o que significa que a Balfe tem muito material para trabalhar. Nesse meio tempo, ela está dublando uma personagem na produção da Netflix O Cristal Encantado: A Era da Resistência (“Isso me levou de volta a um momento tão especial na minha infância.“) e terá um papel como pilota de carros esportivos (e esposa do também motorista Ken Miles, interpretado por Christian Bale) em Ford v. Ferrari. Depois, há um casamento para ser planejado com seu noivo Tony McGill. Mas primeiro, há aqueles quatro episódios finais da quarta temporada que Balfe promete dar uma dica do que está por vir. “Esta é uma grande temporada de transição e acho que nos prepara para as próximas. De muitas maneiras, esta é uma grande calma antes das próximas tempestades.”