Irish Tatler: ‘A maternidade é bastante assustadora…’ Caitríona Balfe

  • 13 de novembro de 2021

Caitríona Balfe é a capa e recheio da revista irlandesa que acompanha o jornal Business Post deste domingo, 14 de novembro. Em entrevista exclusiva, a atriz falou sobre seu novo filme Belfast e a maternidade.

Confira a tradução da matéria na integra e, por favor, dê os devidos créditos ao Portal Caitríona Balfe, caso ela seja repostada.

“A maternidade é bastante assustadora… antes dela eu era apenas responsável por mim” – entrevista exclusiva com Caitríona Balfe

A estrela da capa da Irish Tatler, gratuita com o Business Post deste domingo, tem estado ocupada – com um filho de dois meses, um filme comprovável indicação ao Oscar e outra temporada de Outlander a caminho. Ah, e já falamos da campanha ambiental ou do gim?

Caitríona Balfe não parece uma nova mãe. Ela não tem a aparência cansada e atordoada de quem está realmente privada de sono, nem exibe a expressão frenética de uma mulher arrancada à força de sua vida por causa das fraldas e mamadas noturnas. Ela se senta diante de mim, calma e implacável, seu rosto de 42 anos protegido por uma armação preta enorme, seu cabelo escuro preso em um coque. Quando comento sobre sua compostura, ela ri.

Ele dorme muito bem“, ela diz sobre o filho. “Acho que o universo me deu o que eu poderia aguentar.”

Essas afirmações são típicas da atriz, que tem uma graça tranquila e confortável. Emergindo do que ela descreve como “um pequeno casulo” com o marido e o filho, ela está comigo para promover Belfast, seu último filme, um estudo comovente da vida familiar nos primeiros dias dos Confrontos da Irlanda do Norte. Escrito e dirigido por Kenneth Branagh, ele nos leva de volta à infância dele e ao verão de 1969. Lindamente filmado em preto e branco, com uma trilha sonora de Van Morrison e um elenco que inclui Judi Dench e Ciarán Hinds, o diálogo de Branagh acerta a classe trabalhadora de Belfast em toda a sua resiliência e humor ácido, com alguns cenários assumindo a dureza anedótica de histórias que foram recontadas com amor ao longo dos anos.

Descrito como sentimental por alguns críticos, muito de seu poder reside em sua ternura. Nada preparou Balfe para ler o roteiro.

“Fiquei tão emocionada. A empatia que o Ken tinha por seus pais, por todos os personagens, era tão comovente. Ele fez a jornada da criança sair da confusão e da raiva para o perdão e isso dá para perceber. O irmão e irmã dele tiveram participações especiais no filme, o que diz muito. Mas o que eu mais amei no filme é que não se tratava de ideologia. Foi tão bonito que ele se concentrou em uma família: você sentiu o peso de tudo muito mais, e a tragédia. ”

O recém-chegado Jude Hill interpreta Buddy, o eu de nove anos de Branagh, enquanto Balfe interpreta a mãe de Buddy. Como foi, no set, habitar a memória de Branagh? Ela balança a cabeça.

Ken é muito inteligente para isso. Ele deixou claro que não precisávamos ser versões do pais dele. Mas ele também nos contou tantas histórias sobre seus pais e isso não poderia deixar de se transparecer“, ela diz.

A atriz está em um momento de sua vida em que está refletindo muito sobre sua própria infância. Crescendo em Monaghan, a quarta mais velha de cinco, seus pais adotariam mais dois, ela passava os dias pescando e subindo em árvores.

Sempre havia gente por perto, eu não estava acostumada a ter meu próprio espaço. Foi divertido.

Ela tem suas próprias lembranças dos Conflitos: “Eu me lembro de soldados camuflados, enormes postos de controle do exército, helicópteros, viagens através da fronteira para o dentista. Era tudo meio que normal.

Ela sempre quis ser atriz. “Desde que posso me lembrar, eu estava colocando a maquiagem da minha mãe na frente do espelho, fazendo sotaques, interpretando pessoas diferentes.

Foi quando ela estava estudando teatro no Dublin Institute of Technology que ela foi descoberta para ser modelo, uma carreira que a levaria por todo o mundo, trabalhando em campanhas para nomes como Chanel e Givenchy.

Eu lembro disso e me pergunto por quê fui tão longe nessa jornada. Pensei que faria isso por um ou dois anos e a ideia de viajar era tão inebriante. Mas quando eu estava lá, era difícil descobrir como voltar a atuar.

No entanto, ela não tem arrependimentos reais.

Eu não era madura o suficiente para atuar e essa experiência de vida extra me ajudou a levar a atuação mais a sério, mais tarde.

Foi uma transição fácil da passarela para a tela?

Não, foi muito difícil. Quando me mudei para LA, eu não conhecia ninguém. Demorou um pouco para eu conseguir um emprego e meus dois primeiros trabalhos nem tinham fala.

Então veio Outlander.

Eu estava passando por um período particularmente ruim. Já fazia um tempo desde meu último trabalho e eu havia sido dispensada por um agente. Mas então, tudo aconteceu muito rápido. Eu fui contratada em um dia, estava em Glasgow algumas semanas depois e agora, nove anos depois, ainda estou lá.

Depois de LA, demorou um pouco para se acostumar com o clima na Escócia, mas havia uma sensação real de volta ao lar.

A paisagem, as pessoas são muito semelhantes à Irlanda“, ela diz.

Gravar a última temporada da série durante a gravidez foi um desafio.

Normalmente, não sou uma pessoa nervosa ou ansiosa, mas a gravidez acrescentou uma camada disso. Minha agenda era difícil. Eu trabalhava 14 horas por dia, 5 dias por semana. Eu voltava para casa e meu marido dizia que eu precisava comer alguma coisa, mas eu já estava dormindo.

A barriga apareceu logo no início.

Todo mundo disse, oh, ela não vai aparecer, mas eu estava chamando atenção,” ela ri. “Acho que houve muito trabalho de pós-produção.

Descrever o parto como “uma coisa bizarra e louca” deu a ela um respeito totalmente novo pelo seu corpo.

É incrível que nossos corpos possam fazer isso“, diz ela.

Ela está fazendo as pazes com seu corpo pós-parto lendo a obra da poetisa Cleo Wade.

Suponho que estou lutando agora com a realidade de que sou a responsável. Isso é bastante assustador. Antes, eu era responsável apenas por mim.

Quando Balfe não está atuando, ela é a patrona da World Child Cancer, uma organização que oferece às crianças em todo o mundo direitos iguais a tratamento e cuidados oncológicos. Ela também é uma defensora apaixonada do meio ambiente, tanto que fãs de Outlander plantaram árvores no aniversário dela, uma iniciativa conhecida como #ProjectCaiTREEna que levou ao plantio de mais de 100.000 árvores até hoje.

Durante o lockdown, ela até lançou seu próprio gim, o Forget Me Not, com parte dos lucros indo para as artes. Pergunto a ela se tornar-se mãe aprofundou seu compromisso com a mudança.

Eu poderia estar fazendo muito mais“, ela diz. “Tenho pensado muito sobre em que estado estamos deixando este planeta. Como chegamos a este ponto e que papel minha geração desempenhou nisso? Somos viciados em conveniência. Mas agora estamos além da responsabilidade individual. É preciso haver grandes iniciativas governamentais. Não entendo com a tecnologia que temos, porque não estamos fazendo mais. Conseguimos fechar países, fechar viagens, mas não podemos salvar o planeta? Onde está a vontade política?

Ela levará seu filho para casa em Monaghan em algumas semanas.

Será a primeira vez que estarei em casa em vinte meses. Sinto muita saudade dos meus pais e da minha família. Graças a Deus pelo FaceTime.

Não somos a família mais tecnológica, então eu vi muitos abajures e orelhas e não muitos rostos“, ela ri.

Balfe e seu marido decidiram não revelar o nome do filho publicamente, por respeito à privacidade dele.

Sou uma pessoa muito aberta“, ela diz, “mas aprendi que existe uma pequena quantidade de pessoas que querem perseguir você e sou cautelosa“.

Ela voltaria a morar na Irlanda?

Estou constantemente procurando algo para filmar na Irlanda. Eu adoraria voltar. Tenho essa fantasia de morar em Cork. Não sei por quê. Só estive lá uma vez.

Então, o que dizer do futuro? Se tratando de trabalho, outra temporada de Outlander se aproxima. Quando eu a pressiono sobre quaisquer reviravoltas inesperadas na história, ela fica calada.

Não tenho permissão para dizer nada“, ela diz.

Ela gostaria de fazer mais filmes.

Tive muita sorte, não fiz muitos filmes, mas gostei muito dos que fiz. Mas estou em um estágio agora em que gostaria de fazer algo contemporâneo.

Houve investidas na produção.

Tenho dois projetos que estou desenvolvendo no momento. Gosto de produzir, porque estou usando uma parte totalmente diferente do meu cérebro. Estou olhando para o todo de tudo. Também adoro trabalhar com escritoras. Estou maravilhada com as mentes dessas mulheres. Como elas criam essas coisas?

Ela mesma escreve. Eu me pergunto se a gestação de seu filho, a reformulação de sua própria infância que inevitavelmente ocorrerá com a criação dele e a experiência de Belfast se combinarão em sua psique para criar uma história de sua própria infância.

Ela ri, e seu corpo se inclina um pouco para a esquerda, onde em algum lugar, em outro quarto, seu filho está dormindo. Quando ela fala, sua voz é irônica.

Porque eu tenho muito tempo no momento, né?