LA Times: De ‘Outlander’ para ‘Belfast’, Caitríona Balfe aprendeu que você deve ‘criar seu próprio destino’

  • 23 de novembro de 2021

Caitríona Balfe foi entrevistada pelo jornal estadunidense Los Angeles Times e apareceu na edição de 22 de novembro. A atriz fala sobre Belfast, sua carreira e como Claire e Ma tem suas similaridades e diferenças.

Londres – Caitríona Balfe esperou durante toda a sua carreira uma proposta para um projeto na Irlanda. Depois de filmar o drama semi-autobiográfico de Kenneth Branagh, Belfast, sobre um menino crescendo na Irlanda do Norte durante os Conflitos, a atriz de 42 anos ainda está esperando.

Tecnicamente, ainda não trabalhei na Irlanda como atriz“, Balfe ri ao refletir sobre o filme, que foi filmado em Surrey, na Inglaterra, no outono passado. “É realmente estranho. Mas é algo que estou sempre procurando. Foi tão lindo. Mesmo que esse sotaque não seja o meu próprio, é muito próximo. É um que eu cresci ouvindo. Fazer parte de algo assim te toca em um lugar diferente. Isso atrai algo um pouco diferente de você, quando se está fazendo algo que é tão pessoal ou tem um vínculo pessoal.

Balfe cresceu a cerca de 90 minutos de Belfast, do outro lado da fronteira com a Irlanda, em Monaghan. A atriz descreve sua cidade natal como uma “pequena cidade com um só cavalo” (não havia nem mesmo uma sala de cinema) e ela se lembra das idas e vindas entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, durante sua infância.

O pai dela trabalhava como sargento da polícia e sua mãe foi responsável por criar Balfe e seus quatro irmãos – uma experiência que parece relacionada às circunstâncias retratadas em Belfast, que agora está em cartaz nos cinemas de todo o país. No filme, Balfe interpreta Ma, uma mulher trabalhadora criando dois meninos em Belfast de 1969, enquanto seu marido, Pa (interpretado por Jamie Dornan), viaja para a Inglaterra para ganhar a vida.

As circunstâncias são muito diferentes, mas o momento é semelhante“, lembra Balfe. “Pouco mais de uma década depois dessa época, mudamos para a fronteira por causa do trabalho do meu pai, porque as coisas haviam piorado naqueles 10 anos a ponto de realmente parecer uma zona de guerra. Mas [minha mãe] deixou sua comunidade de irmãs realmente unida – todas elas viviam muito próximas umas das outras perto de Kildare. Tudo isso definitivamente ressoou em mim de uma maneira diferente. Eu pensei muito na minha mãe enquanto filmava isso. Deve ter sido difícil para eles.

Enquanto Branagh escreveu Belfast baseado vagamente em sua própria criação, o diretor queria que seu elenco, que também inclui Judi Dench e Ciarán Hinds, se baseasse em suas próprias lembranças. Em um dos primeiros dias no set, Branagh sentou Balfe, Dornan, Dench e Hinds ao redor de uma mesa enorme – para distanciamento social – e os convidou a falar sobre suas experiências da infância e suas lembranças de seus pais.

Em seu jeito de mestre genial, acho que ele estava puxando coisas que queria que começássemos a pensar e que ele queria que fosse incluído em nossas atuações – sem dizer: ‘Isso é o que eu quero que você faça’“, diz Balfe. “Ele era como o mágico de Oz, puxando as alavancas sem que nenhum de nós percebesse. Porque estávamos compartilhando histórias bastante pessoais e todos, às vezes, estavam sendo muito vulneráveis, imediatamente houve um vínculo entre todos nós. Especialmente para mim, sentada naquela sala – quando entrei pela primeira vez, não posso nem te dizer o quão intimidada eu estava. Isso me ajudou muito em termos de como eu me identifiquei com todos.

Embora Balfe possa ter se sentido inicialmente intimidada, não havia dúvida na mente de Branagh de que ela era a pessoa perfeita para encarnar Ma, uma mulher complicada que luta com a ideia de deixar sua vizinhança.

Caitríona tem a rara combinação de paixão, inteligência, humor e generosidade que compõe o que se pode chamar de alma“, diz Branagh sobre a atriz. “A dela é grande, a qual ela está disposta a compartilhar em seu trabalho… Na hora de filmar, ela estava sempre preparada e, também, sempre estava pronta para se surpreender. Tínhamos os mesmos objetivos de atuação: verdade, simplicidade, coração. Fácil de dizer, difícil de dar do começo ao fim, mas ela deu.

Belfast entrou em produção em outubro passado com protocolos de segurança sérios em vigor e a oportunidade de voltar ao trabalho não poderia ter vindo em melhor hora para Balfe. Ela havia passado os últimos quatro meses enfurnada em seu apartamento em Glasgow com seu novo marido, Tony McGill, e estava tão animada para fazer o filme que perdeu o primeiro aniversário de casamento dos dois.

Fiquei naquele apartamento até o início de julho“, ela suspira. “Tivemos restrições rígidas na Escócia, o que foi ótimo, porque eles realmente conseguiram controlar os números. Ken fala sobre como ele escreveu o roteiro durante esse período. Eu não fui nada produtiva. Foi um momento muito introspectivo para todos. Acho que todos olhamos para nossas vidas e pensamos: ‘Que diabos estamos fazendo?’ Posso ter tido uma pequena crise existencial ou duas.

Balfe não estranha ter que olhar para dentro quando chega o chamado. Embora tenha crescido querendo ser atriz (ela observa: “Eu queria ser atriz desde os 3 ou 4 anos – eu era aquela criança chata“), Balfe deu um grande desvio aos 20 anos. Ela começou a modelar aos 18 anos, participando de desfiles de casas de moda como Chanel, Louis Vuitton e Givenchy. Ela deixou sua cidade pequena na Irlanda e se mudou para a cidade de Nova York. Mas depois de vários anos, Balfe teve que reconhecer que essa não era a carreira que ela queria.

Eu sempre planejei em voltar [a atuar], mas é uma daquelas coisas em que é difícil ver onde está o seu caminho“, ela lembra. “Eu estava definitivamente muito infeliz. Cheguei a um ponto em que tinha 27, 28 anos e estava infeliz e não sabia como fazer o que queria. Comecei a fazer aulas aleatórias de atuação em Nova York para ver se ainda gostava e se eu era boa. E eu adorei. Demorou um pouco para tomar a decisão e quando eu tinha 29 anos, pensei, ‘É isso, estou me mudando para Los Angeles. Algo vai acontecer.’

Em Los Angeles, Balfe conseguiu seu primeiro emprego: o filme de J.J. Abrams, Super 8, de 2011, interpretando a “mãe morta”. Ela não tinha falas, mas a experiência foi o suficiente para convencê-la a continuar. Ela conseguiu mais alguns papéis antes de ser escalada para o papel de Claire Randall em Outlander, o papel que mudou tudo.

Esse papel é uma dádiva, porque dentro desse mundo de fantasia, a gama do que fui capaz de fazer com Claire foi incrível“, diz Balfe, que se mudou para Glasgow para a série Starz, que vai exibir sua sexta temporada no próximo ano (em 06 de março). “Se isso fosse mais uma série policial moderna ou algo assim, eu não conseguiria fazer metade das coisas que fui capaz de fazer. Eu não teria me aquecido da maneira que fui com esse papel.

A próxima temporada da série foi um desafio particular para Balfe, que estava grávida de seu primeiro filho durante a produção, no início deste ano. A gravidez foi escondida pelos episódios – Claire está agora no final dos 50 anos e na menopausa – e em vez disso, o foco de Balfe estava em explorar o trauma de Claire dos eventos que finalizaram a 5ª temporada. A personagem sofreu muito ao longo dos anos e muitas vezes se recuperou, mas desta vez Claire tem que lidar com seu trauma, algo que entusiasmou Balfe.

Esta temporada foi realmente incrível porque pela primeira vez eu pude explorar a Claire de uma forma onde ela está mais desestabilizada do que nunca“, explica a atriz. “Isso tem muito a ver com os eventos da temporada passada, mas eu [também] conversei com muitas mulheres e há muito acontecendo na imprensa do Reino Unido, no ano passado, sobre mulheres que passam pela menopausa e como isso pode realmente desestabilizar você [e] mudar a sua habilidade de lidar com as coisas. Eu definitivamente coloquei isso no que estava acontecendo nesta temporada.

Ela acrescenta: “Psicologicamente, ela realmente está lutando contra o ataque no final da temporada passada. Ela é alguém que sempre foi capaz de compartimentar as coisas e foi capaz de colocar as coisas em uma caixa e seguir em frente. Mas isso é algo que ela não consegue fazer. Ela realmente está lutando emocional e mentalmente para manter os pés no chão e seguir em frente.

Embora existam algumas semelhanças entre Claire e Ma, Balfe estava especialmente interessada em explorar suas diferenças. Claire está sempre pronta para saltar para o desconhecido, mas Ma teme o mundo fora de Belfast, mesmo sabendo que seria melhor tirar sua família da violência crescente. Balfe assistiu a muitas filmagens e entrevistas com mulheres da época e procurou entender o desafio e a complexidade de criar uma família durante conflitos. Embora a história tenha seus momentos de escuridão, há uma sensação de leviandade ao longo do filme – que os atores também adotaram nos bastidores.

Simplesmente havia uma espécie de resiliência no clima no set, porque estávamos todos felizes por estar fazendo este grande projeto juntos e Caitríona foi fundamental para isso“, conta Dornan, que conheceu Balfe brevemente antes da produção de Belfast. “Achei muito fácil fingir que tínhamos um casamento de verdade e um vínculo real e que estávamos realmente criando esses dois meninos juntos. Ela tornou tudo muito fácil… Acho que abordamos o trabalho de maneiras muito semelhantes. Somos muito focados e prontos, mas prontos para nos divertir, também.

Agora Balfe está considerando onde ela quer levar sua carreira. A sétima temporada de Outlander será filmada no próximo ano e Balfe recentemente adquiriu os direitos do romance Here Is the Beehive de Sara Crossan e está desenvolvendo o filme em potencial como produtora. Ela também está pronta para começar a dirigir.

Este é outro presente que Outlander me deu“, diz Balfe. “Como mulher nesta indústria, é importante que você crie seu próprio destino, de certa forma. Se você está esperando o telefone tocar, haverá grandes calmarias e quedas. Eu acho que você tem que olhar para diferentes maneiras de como você vai sustentar uma carreira e ter longevidade.

Ela pode e vai dirigir, porque ela tem muitas coisas para dizer, ela sabe como dizê-las e está determinada“, confirma Branagh. “Estou animado para vê-la desenvolver essa parte de seu trabalho. Ela é uma voz original e apaixonada, e seis temporadas de Outlander são um campo de treinamento e tanto para o lado técnico da filmagem.

Depois de trabalhar com Branagh em Belfast, Balfe sabe de uma coisa com certeza: ela não consegue ficar quieta quando se trata de seus futuros papéis.

Obviamente, quando você está começando sua carreira, não há essas opções“, diz ela. “Você aceita o que é oferecido. Você pode ter um pouco de poder em dizer não para algumas coisas, mas na real é que você tem sorte de que alguém esteja lhe oferecendo um emprego. Definitivamente, quero trabalhar mais na Irlanda. Acho que isso realmente supriu minha necessidade, com certeza. Quando você recebe um ótimo roteiro e um ótimo papel, em um ótimo projeto, é muito, muito cativante, então a próxima coisa que você quer é um ótimo roteiro, em um ótimo papel, em um ótimo projeto.

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