RTE: Caitriona Balfe ‘Não acho que você deva viver para trabalhar.’

  • 10 de fevereiro de 2022

Caitríona Balfe foi entrevistada pela imprensa de seu país natal e falou sobre Belfast, as gravações do filme, uma possível indicação ao Oscar e ter se tornado mãe. Confira a tradução da entrevista a seguir!

O drama autobiográfico de Kenneth Branagh, Belfast, está entre os filmes imperdíveis de 2022. Michael Doherty conversa com uma de suas estrelas, Caitríona Balfe.
Embora mais famosa por seu papel premiado como a viajante no tempo Sasanach Claire Randall na série de TV Outlander, Caitríona Balfe também apareceu em vários filmes ao longo dos anos.

Seu currículo inclui Jogada de Mestre (2013), Ford v Ferrari (2019) e Jogo do Dinheiro (2016), que co-estrelou George Clooney e [foi dirigida por] Jodie Foster. Mas é o seu filme mais recente, Belfast, que resultou na ex-top model recebendo as melhores atenções de sua carreira no cinema, sem mencionar uma forte chance de uma indicação de Melhor Atriz Coadjuvante quando as indicações ao Oscar forem anunciadas em 8 de fevereiro.

No drama poderoso e comovente de Kenneth Branagh, a atriz, nascida em Dublin e criada em Monaghan, interpreta Ma, matriarca de uma família da classe trabalhadora de Belfast que se esforça para manter sua família unida no início dos Conflitos.

Conversamos com Caitríona sobre tudo, desde bebês até Belfast e sua aproximação a Judi Dench…

O escritor/diretor Kenneth Branagh descreveu Belfast como um conto tanto de partir o coração como comovente: foi isso que o atraiu para o projeto?
Sim, porque como atriz, você adora fazer as duas coisas. Essa é uma das coisas que me impressionou quando li o roteiro pela primeira vez. Você está rindo, mas também há momentos em que você está meio que se encolhendo com o reconhecimento de si mesmo, ou de sua mãe, e daí está chorando no final! Você sonha em receber um projeto tão bom quanto esse no roteiro e quando o diretor também o escreveu, você sabe que só pode melhorar. Então foi só um sonho.

Belfast é um título evocativo e uma cidade tão evocativos que significa muitas coisas diferentes para pessoas de diferentes gerações nesta ilha. O que isso significa pra você?
Minha irmã foi para a universidade em Queens, então era uma cidade que eu conheço e passei bastante tempo, quando era muito mais jovem. Mas sabe, eu cresci na fronteira, então estou procurando fazer um projeto que foi ambientado lá, mesmo que não tenhamos filmado na Irlanda.

Você costuma ler projetos que estão imersos na ideologia do que aconteceu no conflito, mas isso sempre foi algo que eu tentei ficar longe. Eu simplesmente sinto que olhar com romantismo para aquela época não é muito o que eu quero fazer. Mas acho que o que Ken fez aqui foi tirar toda essa ideologia e olhar de um ponto de vista muito humano, nos mostrar que o amor pela família e pela comunidade foram coisas que foram destruídas por esse conflito.

E isso para mim é a coisa mais dolorosa que aconteceu com nosso país e nossa nação: como ele foi destruído por essas, sabe, diferenças minúsculas entre nós. Isso arruinou tantas vidas e tantas outras foram perdidas, por tanto tempo.

E a cidade?
Belfast é uma cidade tão ótima e voltei recentemente, algumas vezes. Mesmo antes de saber que faria o filme, eu retornei logo antes do lockdown. Naquela altura, foi ótimo ir lá e ver como ela estava rejuvenescendo, graças a Game of Thrones entre outras coisas.

Era tipo, ah, a cidade está voltando à vida e isso é ótimo, porque me lembro de estar lá quando minha irmã estava na universidade e sempre foi um lugar tão tenso. Você sempre tinha que ter cuidado, sabe, ao soar muito “do sul”, ou se você estava nas ruas “certas” ou não. Mesmo que esta seja a história muito pessoal de Ken, eu senti uma conexão com esse roteiro. Você simplesmente não pode deixar de sentir isso se for irlandês.

Deve ser assustador retratar uma personagem real, Caitríona. Mas quão mais assustador é quando você está interpretando a mãe do homem olhando para você pelas lentes?
Ha ha ha! Ken, para o crédito dele, nunca fez parecer que tínhamos que fazer sua versão. Há uma razão pela qual ele é tão bom no que faz. Digo, ele é um homem tão inteligente e, acho que muito esperto, ele mexeu os pauzinhos  que ele queria que fizéssemos sem fazer parecer que era isso que ele estava fazendo!

No primeiro dia em que nos reunimos, ele colocou Judi (Dench), Ciarán (Hinds), Jamie (Dornan) e eu sentados em uma sala com ele, conversou conosco e nos fez perguntas sobre nossa infância e nossos próprios pais. Por um lado, parecia um pequeno exercício para nos conhecermos; mas acho que também foi um exercício para ele extrair as especificidades do que ele queria que trouxéssemos para a nossa atuação.

Como eu disse, ele nunca fez parecer que queria que fizéssemos sua versão: em vez disso, ele queria que trouxéssemos o máximo possível de nós mesmos. Ken nos deu liberdade para fazer isso e, ao mesmo tempo, sempre podíamos fazer perguntas a ele e, fácil assim, ele nos contaria histórias sobre sua infância e aprendíamos muito com isso.

No começo, para ser honesta, eu estava absolutamente nervosa! Mas uma vez que começamos, foi uma filmagem fácil e orgânica.

Você trabalhou com alguns elencos impressionantes, mas este parece um grupo particularmente dos sonhos para se trabalhar…
Oh meu Deus, sim! Ainda não consigo superar o fato de ter trabalhado com Judi Dench: isso nunca me deixará. Lembro-me de ver Ciarán em uma peça, provavelmente cerca de 15 anos atrás em Nova York. Eu o vi em tantos projetos diferentes e ele é um ator incrível e o homem mais querido.

Curiosamente, Jamie e eu nos conhecemos pela primeira vez há dois anos no Festival de Cinema de Toronto. Nós estávamos lá com projetos e tínhamos um amigo em comum que nos apresentou. Obviamente, ele é um ator incrível e um cara muito legal. Quando meu agente me disse que estava me enviando o roteiro, e eu sabia quem estava envolvido, eu fiquei tipo, eu nem preciso ler isso, vou fazer de qualquer jeito!

Você mencionou Toronto, Belfast teve uma recepção incrível no festival do ano passado durante sua estreia mundial. Quão gratificante foi ver um filme, que significou tanto para o elenco e a equipe, sendo recebido tão calorosamente pelo público?
Foi gratificante para todos que trabalharam nele. Aconteceu em um momento tão específico. Tínhamos acabado de sair do lockdown e, antes de voltarmos, tivemos essas sete semanas mágicas em que o sol estava sempre brilhando e todos nos amávamos e nos dávamos tão bem de verdade.

Quando você faz um projeto como esse, você sai com as memórias mais incríveis e felizes e meio que pensa, bem, mesmo que isso não dê em nada, foi um destaque da minha vida e da minha carreira. Porque é uma história tão específica da Irlanda e somos uma nação tão pequena, você nunca sabe se outras pessoas se identificação ou entenderão. E daí, quando o fazem, tipo, isso só faz você se sentir orgulhoso. E estou tão feliz por Ken, porque ele colocou muito de si mesmo nisso.

O que você achou da experiência de gravar em preto e branco pela primeira vez?
Eu sou uma verdadeira fã de filmes em preto e branco, então foi emocionante. No início, Ken nos enviou este curto vídeo (com uma pequena compilação de vídeos) com alguns filmes de Pawel Pawlikowski, além de Cinema Paradiso e alguns outros títulos, para nos dar uma noção do sentimento que ele estava procurando.

A pior coisa que você pode fazer é começar um filme quando não tem certeza do tom, mas sabíamos desde o início qual tom Ken estava procurando. Foi emocionante porque foi muito diferente de tudo que eu já fiz antes. Haris [Zambarloukos] é o diretor de fotografia mais incrível. Toda vez que eu via um pouco da filmagem, estava lindo.

Foi complicado ter que filmar sob os protocolos da Covid?
Por causa das restrições da Covid, tínhamos duas locações e estávamos realmente redirecionando todos os quarteirões, todos os ângulos, todas as ruas. Mas não há nada mais empolgante criativamente do que ter que superar barreiras ou limites. Todos os dias, parecia que eles estavam criando maneiras novas e inventivas de fazer as coisas darem certo. Como atriz, foi lindo ver Ken e a equipe super empolgados com o que estavam fazendo.

Ma tem um visual muito marcante: estiloso, mas muito de acordo com o período dos anos 1960. Foi um visual divertido de se trabalhar?
Sim, e quando se trata dos meus figurinos, conversamos muito sobre texturas. Por exemplo, se Ma está vestindo uma gola rolê, ela é um pouco canelada ou algo assim? Isso tudo foi muito interessante. Quando se trata de cabelo e maquiagem, Wakana [Yoshihara] é simplesmente incrível. Ela fez todo mundo estar incrível.

Acho que a maior decepção dela foi que a cor da minha peruca era tão espetacular, e ela ficou tipo, “Ninguém vai ver!” Mas, novamente, quando você está fotografando em preto e branco, todos devem ajustar o que estão fazendo para fornecer textura em vez de cor.

Em termos de futuro, Caitríona, obviamente há a próxima temporada de Outlander. Mas você também assumiu, recentemente, o papel de uma mãe da vida real, quando você e seu marido (Anthony) deram as boas-vindas ao seu bebê em outubro – parabéns. Adicione o lançamento global de Belfast e o subsequente burburinho do Oscar e estamos falando de épocas cheias!
Com certeza! Ser uma nova mãe, estou percebendo que minha vida não é mais minha! Mas sabe, acho que isso é algo que, neste momento da minha vida, estou muito pronta. Também me sinto muito privilegiada por trabalhar em uma época em que você faz tanto cinema quanto TV e não há esnobismo em nenhum dos dois. A TV tem sido muito boa para mim e tenho sorte que, embora não tenha feito muitos filmes, consegui fazer alguns projetos especiais.

Não acho que você deva viver para trabalhar; você deve trabalhar para viver. E para colocar algo em uma performance, você deve ter uma vida e tem que experimentar o que está acontecendo, e nunca gosto de trabalhar um atrás do outro mesmo. Eu sempre gosto de dar um tempo, tirar um personagem de você e encontrar outra coisa para colocar em um novo, então vamos ver.

A beleza de fazer um filme como Belfast é que ele abre mais portas, então por trás de uma delas eu espero que haja outro bom projeto. Eu também vou voltar para Outlander ano que vem. Então acho que, agora, a vida está parecendo muito boa!