The Glass Magazine: Quando você fizer sucesso, você saberá?

  • 16 de setembro de 2019

A atriz irlandesa Caitriona Balfe conquistou as passarelas, é uma das heroínas mais amadas da TV e agora está pronta para assumir as telonas. Ela fala para a Glass sobre enxaquecas, Muppets e seu futuro filme, Ford v Ferrari.

Quando você fizer sucesso, você saberá?

Quando eu digo que a história de vida de Caitriona Balfe parece uma obra de ficção, não quero dizer que a maneira como ela viveu sua vida parece fantástica. Muito pelo contrário – simplesmente não soa como a vida real. Está mais para o prólogo de um filme do início dos anos 2000, que tem a seguinte narrativa: “Uma garota de cidade pequena com grandes sonhos é descoberta por um olheiro de modelos, enquanto trabalha com caridade e é levada para as passarelas de Paris. Depois de chegar ao topo, ela é enganada por um agente corrupto – as coisas parecem sombrias. Será que ela chegará a Hollywood?”

Você sabe o resto. Conversando com Balfe, 39 anos, por telefone, rapidamente é perceptível que ela não tem nenhuma intenção de desencorajar as minhas suspeitas de que ela é, na verdade, uma criação fictícia – a infância dela – ela foi criada em Tydavnet, uma cidadezinha em County Monaghan, Irlanda – é incrivelmente cativante.

É engraçado, porque eu cresci sem TV… foi apenas uma decisão que meus pais tomaram. Veja, eu costumava ter muitas enxaquecas quando criança, então eu ficava em casa por muitos dias… Quando eu finalmente tive uma TV, me lembro de deitar no sofá e assistir a esses filmes, quando deveria estar na escola, mas estava muito doente para ir. Lembro-me de me encantar por esses filmes britânicos da década de 1940, foram eles que fizeram eu me apaixonar pelo cinema e atuação,” ela explica.

Felizmente, as enxaquecas acabaram, mas sua paixão por filmes de época permanece intacta. Balfe estreou no cinema no festival de nostalgia da década de 1980 de J. J. Abrams, Super 8 (2011) – uma cena de suas pernas em O Diabo Veste Prada, de 2006, não conta – e ela é o rosto da muito-amada-série-que-desafia-as-noções-de-gênero Outlander (1946/1743 – pontos extras para a mudança de época) desde 2014. A seguir, vem Ford v Ferrari, a releitura de James Mangold da batalha da Ford conta a Ferrari pela supremacia automobilística em… 1966.

O novo filme é algo do qual tenho muito orgulho. Trabalhar com Christian Bale foi absolutamente um dos pontos altos da minha vida e também com o Jim Mangold, que é um diretor que admiro muito… sabe? Essas são coisas enormes para mim.” Balfe diz. “Eu cresci assistindo o Christian e foi muito divertido trabalhar com ele. Sinto que tivemos uma ligação tão boa e fomos capazes de passar por nossas cenas de uma maneira tão bonita.

Ao lado de Balfe e Bale está outro peso pesado de Hollywood: Matt Damon. “Foi tão incrível assistir Christian e Matt e a maneira como eles têm abordagens muito, muito diferentes no estilo de atuar, ambos chegando ao mesmo lugar. Mas chegando de ângulos diferentes. Christian permanece no sotaque de Birmingham o tempo todo e nessa fisicalidade o tempo todo… esse é o jeito dele. Enquanto o Matt é o Matt até o momento em que eles dizem ‘ação’ e aí ele muda.

Há uma certa inocência surpresa na voz de Balfe, enquanto ela fala sobre seus colegas de elenco, outra qualidade cativante. Ela entrou na atuação relativamente tarde e já estava na casa dos trinta quando finalmente conseguiu sua estreia em Super 8, mas ainda assim é claro que ela sente que isso é apenas o começo. “Quando comecei, tudo o que eu ouvia era, ‘você é perfeita para o papel da morena’ e eu respondia, ‘o que isso quer dizer?’ Acho que é tipo: uma morena inteligente que diz às pessoas o que fazer? Sabe lá Deus! Então, tem sido uma surpresa legal trabalhar em coisas mais obscuras como O Cristal Encantado. Ela tem esse fandom intenso do qual é muito interessante fazer parte. É meio que o equivalente às pessoas que seguem o seu time de futebol preferido, pelo qual eles vivem ou morrem. É algo especial de se fazer parte.

O Cristal Encantado: A Era da Resistência é a estreia de Balfe no live action. Ela estrela como uma guerreira Gelfling (uma raça de criaturas parecidas com elfos, nativas do planeta Thra, parte do universo dos Muppets), chamada Tavra, como parte do elenco, possivelmente, mais cheio do ano.

Enquanto ela se prepara para outro primeiro, vale a pena lembrar que seu crédito inicial no cinema não foi, na verdade, um papel de atriz, mas uma aparição “como ela mesma” no documentário de 2000 de sua grande amiga e colega de passarela, Sara Ziff, Picture Me: A Model’s Diary (Me Imagine: O Diário de uma Modelo, em tradução livre). Foi um olhar interno em como a vida de uma modelo realmente é. “Imagino que [Picture Me] foi um precursor para muitos do trabalho que está acontecendo agora da Time’s Up, éramos modelos em uma época em que a indústria estava cheia de assédio sexual.

Enquanto ela não faz mais parte da indústria da moda, Balfe continua a trabalhar com sua amiga como parte da Model Alliance de Ziff – uma organização criada para defender a igualdade no local de trabalho e a erradicação do assédio sexual na indústria da moda. “A Sara realmente começou [Model Alliance] como uma maneira dar proteção a certas garotas que trabalham na indústria que estavam completamente desprotegidas. Eu sempre tento me impor e defender as pessoas que não têm voz. Como uma das modelos mais velhas, apesar de ter apenas 19 anos, lembro-me de estar no Japão com garotas de 17 anos recebendo ordens para não comer ou mandadas para testes com pessoas que eram bastante duvidosas… Acho que, de certa forma, eu sempre assumi esse papel de tentar cuidar e proteger essas meninas.

Também houve a época em que Balfe não recebeu US$ 300.000 em salários acumulados nas temporadas de 2002 e 2003 em Milão, depois que sua agência italiana faliu, roubando os ganhos de seus clientes. “Havia muita desigualdade e abuso, seja físico, sexual ou financeiro,” ela comenta.

Assim como Ziff, Balfe está aberta à possibilidade de ir para atrás da câmera. “Eu adoraria. Sabe, um dos benefícios de estar em uma série de TV pelo tempo que estou é que tenho muitas horas vendo diretores diferentes, as diferentes abordagens do que eles fazem… o que funciona e o que não, sabe?  Tem sido uma experiência de aprendizado incrível. Como ator, você está limitado quanto as histórias que pode contar, mas acho que se puder dirigir ou produzir, você pode contar uma variedade muito mais ampla de histórias.

Até ela assumir esse manto, há um nome que Balfe adoraria ter em seu currículo. “Tipo, há muitas pessoas com quem eu adoraria trabalhar, mas um diretor em particular seria Andrew Haigh. Estou obcecada com os filmes dele, A Rota Selvagem, 45 anos…” Nesse momento, ela se recupera, como se estivesse cautelosa em se envolver demais no sonho e se recompõe. De volta ao sofá, em casa e, talvez, precisando de um lembrete de que, para todos os efeitos, ela “conseguiu”. “Estou no começo, sabe? Qualquer um que queira trabalhar comigo está ótimo.

Inicio » Revistas e Jornais | Magazines & Newspapers » 2019 » The Glass Magazine [Outono]