The Scotsman: Caitríona Balfe fala de ‘Belfast’ e da nova temporada de ‘Outlander’
- 03 de março de 2022
Caitríona Balfe foi capa e recheio da revista do jornal escocês The Scotman de 15 janeiro. Leia a seguir a entrevista com a atriz, que falou sobre seu mais novo trabalho na telona, com Belfast, e na telinha, com Outlander.
Por que seu mais novo filme foi um tipo de retorno ao lar para a atriz irlandesa
por Janet Christie
A atriz irlandesa Caitriona Balfe está sorrindo e feliz enquanto fala de Londres sobre seu novo filme Belfast. A razão para o humor otimista da estrela de Outlander é a recepção que o filme está recebendo, bem como a experiência que ela teve ao fazê-lo.
Apesar de se passar no início dos Conflitos da Irlanda do Norte em 1969, a comédia-drama semiautobiográfica de Kenneth Branagh é contada do ponto de vista de Buddy, de nove anos, e consegue capturar a alegria e a maravilha da infância em um cenário de conflitos e tragédia, tornada ainda mais intensa vista depois. Você vai rir e vai chorar.
“Quando vi o filme, chorei muito“, diz Balfe, “porque, embora seja uma história muito pessoal para o Ken, você não pode deixar de pensar em sua própria vida e sua própria família e suas próprias experiências como alguém que também cresceu na Irlanda.”
Balfe interpreta Ma, mãe de Buddy, que é interpretadp brilhantemente pelo recém-chegado e ator mirim Jude Hill, ao lado de Jamie Dornan, Judi Dench, Lara McDonnell, Ciaran Hinds, com música de Van Morrison. O filme estreou no BFI London Film Festival em outubro e ganhou o People’s Choice Award no Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2021.
O que Balfe acha que são os temas do filme?
“Definitivamente, família e amor e a inocência da infância sendo destruída ou derrubada por conflitos externos. Saí de lá quando tinha 18 anos, mas tenho tanta nostalgia ao relembrar da minha infância e daqueles anos em que você olha para o mundo com olhos de admiração. Eu acho que a ideia do amor da família e da comunidade e da inocência da infância e o que perturba isso são os temas do filme.”
O filme leva seu público de uma Belfast contemporânea em cores sobre os Muros da Paz para o mundo preto e branco de uma rua animada e unida da classe trabalhadora em Belfast, enquanto as barricadas começam em 1969.
Flashes de cores realçam as lembranças de O Calhambeque Mágico e de Futebol de Botão, piqueniques e espadas de madeira, em contraste com metralhadoras e turbas, enquanto divisões políticas e religiosas que não têm sentido para uma criança destroem sua comunidade.
“Mesmo que esta seja muito a história de Ken, há uma universalidade nela que permite que você veja a sua própria história. Eu definitivamente pensei em minha mãe, interpretando a Ma. Você tem essa ligação muito pessoal e não parece que estou fazendo a mãe de Ken; é como se eu estivesse fazendo a mãe que conheço dessa história.”
Crescendo no Condado de Monaghan nas décadas de 1980 e 1990, os Conflitos ainda tem consequências duradouras para Balfe.
“Monaghan fica bem na fronteira e, onde cresci no país, estamos a apenas 10 quilômetros de distância. Durante a maior parte da minha infância, o punt ou a libra irlandesa era mais forte que a libra esterlina, então íamos para o Norte fazer nossas compras semanais, passando por grandes postos de controle do exército com soldados britânicos com metralhadoras verificando seu carro e tínhamos sustos de bombas em nossa cidade o tempo todo, então definitivamente estava muito presente e era muito real.”
A própria família de Branagh deixou a Irlanda e ele passou a encontrar fama internacional com inúmeros filmes de sucesso que variam de adaptações de Shakespeare a Dunkirk e Morte no Nilo, mas este é Branagh voltando para casa, com seu filme mais pessoal até hoje.
“Acho que esta é uma versão do que ele passou. Ele falava, enquanto estávamos filmando, sobre suas lembranças de quando as barricadas foram erguidas e foi ótimo tê-lo lá e absorver todas essas informações sem parecer que ele está dizendo o que fazer. E o irmão de Ken e sua irmã também fizeram pequenas participações, então foi muito pessoal para ele, o que foi uma coisa muito bonita.”
Agora que Balfe é mãe (ela e o marido produtor musical Tony Gill moram em Glasgow com o bebê que tiveram no verão passado) será que ela achou que isso lhe deu uma compreensão sobre como interpretar Ma?
“Eu realmente acho que não, porque ainda estou tentando fazê-lo dormir e comer e deixar as fraldas secas, estou nesse estagio. Portanto, essas questões maiores sobre segurança ainda não apareceram tanto. Obviamente, estou desesperada em mantê-lo seguro, mas ainda estamos no início da maternidade aqui“, ela diz e ri.
“Não era exatamente o plano deixar isso para tão tarde, [Balfe tinha 41 anos], mas sabe, eu amo ter sido capaz de viver uma vida muito plena. Eu não sou de planejar as coisas, e provavelmente vou pagar por isso agora que tenho um filho, porque estou percebendo que muito da criação de filhos é logística e planejamento. Mas eu apenas disse sim a qualquer oportunidade que se apresentasse e, ao fazê-lo, tive muita sorte que minha vida foi interessante e me trouxe a muitos lugares legais, então é, vou aceitar isso com a desorganização, então.”
Trabalhando com Jude Hill, que tinha oito anos quando o filme foi feito, e o adolescente Lewis McAskie, que interpreta seu irmão mais velho, Will, fez com que Balfe e Dornan passasse muito tempo livro no set com eles, já que foi feito durante a Covid, com filmagens em Belfast e Londres.
“Jude é incrível. Este é o seu primeiro papel e é uma atuação tão madura. Ambos Jude e Lewis e suas mães são adoráveis e passei muito tempo com eles, porque estávamos todos no mesmo hotel. Era verão e estava ensolarado e o Ken fez a equipe e o elenco jogar rounders ou basquete, portanto, muito rapidamente todos nós formamos esse relacionamento muito familiar que eu acho que realmente aparece na tela. Mas o Jude é uma maravilha. Todos os dias que aparecia no set, ele estava preparado, nunca reclamou e você sabe que o filme depende dele. Tenho muito orgulho dele.”
Enquanto a família de Branagh deixou Belfast, se Balfe estivesse nessa posição, ela teria saído?
“Deixar a família, pais, irmãs, irmãos e amigos, é uma decisão muito difícil. É difícil dizer, porque é difícil não ter a perspectiva de que esse conflito continuou por tanto tempo. Acho que sabendo disso, você deixaria. Para proteger seus filhos, você faria algo drástico.”
Balfe já foi oferecida papeis que se passavam na Irlanda dos Conflitos, mas este foi o primeiro que a atraiu.
“Você sente uma responsabilidade emocional ao fazer qualquer projeto que tenha a ver com o Norte, que você não está, de forma alguma, romantizando nenhum lado dessa ideologia. Isso é algo com o qual sempre tive problema, quando se recebe roteiros que falam sobre o conflito, pois muitas vezes eles olham para trás com óculos cor de rosa sobre esse tipo de homem patriota e corajoso. E eu nem sempre vejo dessa maneira.”
“Acho que o que é tão bonito no roteiro de Ken é que ele é sobre as pessoas reais e como isso realmente afetou as famílias, e há uma compaixão por isso. Achei muito importante falar sobre isso, especialmente hoje em dia, quando há uma geração que esquece como era ou não estava por perto quando o conflito estava no auge. E há aquela noção romântica de lutar por uma causa que está desaparecendo que acho que é muito, muito triste.”
Belfast é uma história contada do ponto de vista de uma criança e, como tal, dá peso igual a uma narrativa feminina ao lado da masculina tradicional.
“Exatamente“, diz Balfe. “Quando eu estava fazendo minha pesquisa, há tantas filmagens sobre a Irlanda do Norte, tantas entrevistas com mulheres de vários pontos diferentes do conflito, eu chorava porque esse é o meu povo. Aquelas mulheres. E você vê quantas vidas foram destruídas. Essas mulheres estavam literalmente vivendo no medo, porque as pessoas estavam se aproveitando de ideologias e alimentando o medo por poder, dinheiro, extorsão de seguros, seja lá o que fosse, e as mulheres geralmente eram as que eram deixadas para juntar os pedaços, seja perdendo seus filhos, seus maridos, seus pais ou simplesmente tinham que ver crianças morrendo nas ruas ou sendo mortas.”
“É muito trágico o que aconteceu. Em um país tão pequeno, como permitimos que isso acontecesse. A tragédia disso às vezes é esmagadora.”
Com o lançamento do filme no Reino Unido, ele já atraiu críticas positivas e prêmios e está entre as indicações ao Oscar, com Jude Hill sendo cotado na categoria de Melhor Ator e Caitríona Balfe, Judi Dench, Jamie Dornan e Ciarán Hinds nas de Atriz Coadjuvante e Ator Coadjuvante.
“Isso está longe de acontecer“, diz Balfe, “mas com tanto sucesso em Toronto, esse foi um prêmio especial de receber. Estou simplesmente feliz pelo filme ter ficado tão bonito quanto ficou e por estar recebendo o reconhecimento que merece, porque foi filmado tão lindamente e o trabalho duro, amor e alma que foi colocado para fazê-lo são inigualáveis. Estou muito feliz que o trabalho de todos está sendo notado.”
Nascida em Dublin, Balfe cresceu em uma vila no condado de Monaghan, perto da fronteira, e depois da escola estudou teatro em Dublin. Enquanto coletava dinheiro para caridade em lojas locais, ela foi encontrada por um agente de modelos que a lançou nas passarelas e em campanhas para grandes marcas de moda, incluindo Dolce & Gabbana, Fendi, Burberry, Dior, Louis Vuitton, Givenchy, Armani e Chanel e nas capas da Vogue e da Elle. Atuar sempre foi seu primeiro amor, no entanto, e depois de uma década como modelo, ela retornou em 2009, fazendo aulas em Los Angeles e depois ganhando papéis em Super 8 (2011), Truque de Mestre (2013), Rota de Fuga (2013), Jogo do Dinheiro de Jodie Foster ao lado de George Clooney e Julia Roberts (2016) e Ford v. Ferrari (2019), com Christian Bale e Matt Damon, enquanto encaixa coisas entre Outlander, que ela estrela desde 2014.
“Ford vs Ferrari foi incrível“, diz ela. “A maior parte do meu trabalho foi com Christian que, você sabe, fez algumas coisas, ele é conhecido como um bom ator.” Ela ri. “Christian é incrível e Matt Damon, eles são provavelmente os melhores atores da nossa geração… e era um assunto que eu amo, Fórmula 1. Eu amo esse tipo de corrida e filmes de esportes, então foi um projeto muito divertido para mim. E eu consegui filmar em Los Angeles, então foi ótimo.”
Junto com Belfast e Outlander, grande parte do trabalho de Balfe foi um drama de época, mas ela está pronta para fazer algo mais atual no futuro.
“Eu adoraria fazer algo contemporâneo. Foi assim que aconteceu, embora Jogo do Dinheiro foi contemporâneo. Não sei por que, talvez eu simplesmente tenha um rosto de época?”
Não tem. E os dramas de época também têm uma maneira de lidar com questões atemporais, apesar de serem ambientados no passado.
“Acho que eles podem ser uma ótima ferramenta para olhar para as coisas que estão acontecendo hoje sem forçá-las na cara das pessoas. Acho que Belfast lida com algumas questões muito contemporâneas. No momento, no mundo, há muita divisão por causa de nada e acho que o lembrete de que sua família, a comunidade e o amor que deveria existir ali é tão vital e importante, é uma mensagem que as pessoas precisam ouvir novamente agora.”
Interpretar Ma também foi uma oportunidade para Balfe agitar as coisas, enquanto esperava para filmar a próxima temporada de Outlander, o papel pelo qual ela é mais conhecida. Estrelando como Claire Randall Fraser ao lado de Sam Heughan como Jamie na série de drama histórico da Starz, ela ganhou vários prêmios, incluindo um British Academy Scotland Award, um Irish Film and Television Award, dois People’s Choice Awards e três Saturn Awards, bem como Critics’ Choice Television Awards e quatro indicações ao Globo de Ouro.
“Amo interpretar a Claire, ela me deu muito e foi uma grande parte da minha vida por tanto tempo. Como ator, é muito legal poder fazer outra coisa e isso te deixa animada para voltar.”
Com a série de oito episódios prestes a chegar às nossas telas em março e com Claire e Jamie traumatizados pelos eventos da quinta temporada, particularmente o estupro em grupo de Claire e a Guerra da Revolução Americana (1775-1783) chegando, o que ela pode nos dizer sobre o que está reservado para os ocupantes da Cordilheira Fraser?
“É uma temporada menor, mas muito cheia. Há muita coisa acontecendo“, ela diz. “Há muito desdobramento para muitos personagens e para mim, particularmente, para a Claire. Ela sempre passou por todas as tragédias ou situações em que se viu, de certa forma, ilesa. Acho que devido à sua formação e carreira médica, ela foi capaz de compartimentar as coisas e seguir em frente, não importa o quê. Mas o que aconteceu com ela no final da quinta temporada realmente a desestabilizou e a vemos se desenrolar de uma maneira que nunca vimos antes. Para mim, foi muito interessante abordá-la de uma maneira muito diferente.”
“É um processo de cura após aquele ataque horrível. Teria sido negligente não explorar isso e vê-la superar isso. Ela é uma mulher forte, então acho que ela vai superar tudo, mas ao mesmo tempo ela não é Teflon, ela tem que passar pelo processo e, para ela, essa é a lição mais difícil desta temporada. Ela não é alguém que está acostumada à introspecção e se permitir a ser, como ela acha que é, fraca. Mas ela realmente está despedaçada. Permitir-se ser frágil e vulnerável é uma coisa muito difícil, mas é algo que ela tem que aprender e, no fim, vai torná-la mais forte.”
“Daí temos essa guerra iminente no horizonte e Jamie está realmente lutando, andando na corda bamba entre apoiar os britânicos o suficiente para não cair em desgraça com eles, mas sabendo que eles vão perder no final e que em algum momento ele tem que mudar de lado. Então, é realmente interessante em termos do personagem dele. E temos novos personagens que chegam a Cordilheira que realmente mudam as coisas também.”
As filmagens da sétima temporada, que terá 16 episódios baseados em Ecos do Futuro, de Diana Gabaldon, devem começar em breve no estúdio em Cumbernauld, perto de Glasgow, e em locais por toda a Escócia se passando pela Carolina do Norte.
“A Escócia é a nossa casa e temos este ótimo estúdio onde muito dinheiro foi investido nas instalações e nossa equipe escocesa é incrível, então definitivamente voltaremos.”
Para Balfe, isso significa estar em casa em Glasgow com seu foco muito voltado para a série de sucesso.
“Temos uma temporada muito longa para filmar, então isso vai tomar a maior parte do ano. Portanto, isso vai realmente ditar o que mais é possível fazer. Mas nunca sabemos. Pode haver tempo para entrar de fininho em outra coisa. Veremos.”
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