Vanity Fair Awards Insider: A conquista celta de Caitríona Balfe, de ‘Outlander’ a ‘Belfast’

  • 06 de janeiro de 2022

Caitriona Balfe estampa a capa da edição de janeiro da revista Vanity Fair Awards Insider. Em em entrevista, a atriz fala sobre Belfast e o futuro de sua carreira. Veja a matéria traduzida pelo Portal Caitríona Balfe a seguir. O link para as fotos feitas pelo fotógrafo Nick Riley Betham que acompanham a entrevista está ao final da página.

A conquista celta de Caitríona Balfe, de Outlander a Belfast

Já amada graças a série de TV de romance e viagem no tempo (ei, já é hora de deixá-la dirigir um episódio!), a atuação da atriz irlandesa no filme da infância de Kenneth Branagh a coloca no caminho do estrelato do cinema e do Oscar.

Por Rebecca Ford

Quando criança, Caitríona Balfe nunca estranhou quando uma ida ao dentista ou a uma loja de roupas envolvia passar de carro por soldados britânicos com metralhadoras ou ter o carro da família inspecionado em busca de explosivos. Também houve sustos de bomba frequentes, perto de onde ela cresceu em Tydavnet, uma pequena vila irlandesa perto da fronteira com a Irlanda do Norte. Às vezes, no noticiário, ela ouvia sobre uma comunidade próxima que havia sido atingida. “É uma parte importante da sua vida, quando se vive nessas redondezas“, ela diz. “Só quando se fica mais velha é que você olha para trás e percebe a loucura ou estranheza disso.

É um dia quente de novembro e Balfe está sentada em uma mesa ao ar livre, em um restaurante em Los Angeles, falando sobre os círculos concêntricos que são sua vida e seu novo filme Belfast, de Kenneth Branagh. O filme é a visão semiautobiográfica de Branagh sobre sua própria infância, que se passa em 1969, não muito depois do início da violência e do conflito conhecido como os Conflitos da Irlanda do Norte. Balfe interpreta Ma, uma mãe de dois filhos dividida entre o medo de deixar sua casa na Irlanda do Norte e o desespero para manter sua família protestante a salvo. Acontece que Balfe trouxe seu filho de três meses de idade com ela para Los Angeles para sua primeira viagem através do Atlântico. O filho dela não dormiu bem na noite passada, então ela também não. Entretanto, nem dá para notar: Balfe ainda tem um brilho, pele aparentemente perfeita e olhos azuis claros penetrantes, tudo isso faz completo sentido que ela passou seus 20 anos como modelo de passarela em Paris.

Mesmo sem as necessidades noturnas do filho, Balfe, de 42 anos, tem motivos para estar cansada no momento. Algumas noites atrás, ela compareceu à estreia chamativa de Belfast em Los Angeles, no Academy Museum of Motion Pictures, que terminou com uma festa pós-estreia até tarde, onde seu colega Jamie Dornan cantou Everlasting Love, música que o personagem dele canta para a personagem de Balfe no filme. A viagem promocional turbulenta começou algumas semanas antes, com a estreia em Londres e, em seguida, uma ida para Belfast para honrarias locais. Foi a primeira vez que a mãe de Balfe compareceu a uma de suas estreias. Entre Londres e Belfast, Balfe parou na Irlanda para visitar parentes que ela não via desde antes da pandemia. “Eles não tinham conhecido o bebê. Não tinham me visto grávida“, diz ela, pedindo huevos rancheros, animada por estar sem o bebê por um momento e usar as duas mãos para fazer uma refeição adulta civilizada. “Foi como se todo esse evento tivesse acontecido sem vê-los.

Belfast rapidamente se tornou um favorito ao Oscar, quando foi lançado pela Focus Features nos cinemas em 12 de novembro. Mesmo com um elenco que inclui James Dornan, Judi Dench e Ciarán Hinds, Caitríona Balfe é um claro destaque. Apesar de estrelar uma série de TV de sucesso, Outlander da Starz, nos últimos oito anos, Balfe provavelmente estará no caminho do estrelato no cinema em Belfast, embora ela rejeite esse tipo de conversa. “Sinto que estou em um estágio tão inicial da minha carreira, porque comecei muito tarde“, ela diz, tendo deixado a Irlanda aos 18 anos para uma carreira de modelo que durou uma década. Outlander deu a ela fãs e um rico papel para se aprofundar, mas Belfast a trouxe para a Irlanda do Norte e para uma história que toca em seu próprio coração.

Como irlandesa, você lê muitos desses roteiros sobre os Conflitos e todos eles têm essa versão romântica da violência“, diz Balfe. “Isso sempre me incomoda, porque não acho que isso seja algo que deva ser romantizado. E aqui estava um roteiro que realmente focava na família, nas pessoas e comunidades que foram afetadas.

Por décadas, os Conflitos dominaram a Irlanda do Norte em um longo período de violenta agitação, que teve um efeito duradouro naqueles que viviam nas cidades das fronteiras. O conflito durou dos anos 1960 até o final dos anos 1990 e causou mais de 3.500 mortes. Isso também moldou a vida de muitos que cresceram nessas décadas, como Balfe e o diretor de Belfast, Kenneth Branagh. “Isso te torna muito observadora e te faz entender como, às vezes, as pessoas têm que agir com muito cuidado quando cresceram vivendo em uma divisão, como ela“, diz Branagh sobre Balfe. “Você sabe o que é viver em uma espécie de código vermelho semipermanente.

A quarta de sete filhos, Balfe e sua família se mudaram de Dublin para aquela cidadezinha perto da fronteira, quando ela era muito jovem, por causa do trabalho de seu pai. (Balfe foi criada como católica, mas desde então é não-praticante.) Ela queria atuar desde que consegue se lembrar, mas não tem certeza de onde veio o impulso. Ela acha que o fato de seu pai, um sargento da An Garda Síochána, o serviço de polícia nacional da Irlanda, participar de uma trupe de comédia provavelmente teve algo a ver com isso. Mas seus planos sofreram um desvio, quando um agenciador de modelos a avistou, enquanto ela estudava teatro no Instituto de Tecnologia de Dublin. Poucos meses depois, ela assinou com a Ford Models e teve  a oportunidade de se mudar para Paris. “Sempre quis apenas viajar“, ​​ela diz. “Quando mais nova, nunca fizemos isso, éramos muitos. Não tínhamos dinheiro.

Balfe não poderia saber que, quando ela deixou a Irlanda para trabalhar, ela nunca mais a chamaria de lar. Ela se tornou uma das modelos mais requisitadas, trabalhando nas passarelas, desfilando para nomes como Chanel, Valentino, Alexander McQueen e Givenchy. Ao longo de um período de três anos no início dos anos 2000, ela apareceu em centenas de desfiles. “Havia algo sobre a teatralidade dos desfiles, e o evento, que eu realmente amava“, diz Balfe. Mas isso acabou perdendo o brilho, quando ela se aproximou dos 10 anos no negócio. “Nos últimos anos, eu fui muito infeliz, de verdade“, ela diz. “Não é exatamente a indústria mais legal ou mais saudável.

Nessa época, Balfe estava morando em Nova York e começou a se interessar por aulas de atuação. Ela namorava um cara que morava em Los Angeles e decidiu dar outro salto para uma nova cidade cheia de estranhos. “Eu sabia que tinha paixão por atuar“, ela diz. “Eu sabia que era algo que, se tivesse a chance de fazer, atacaria com tudo o que tinha.” Balfe sabia que estava em desvantagem com um início tardio, mesmo na idade não exatamente avançada de 29 anos. Mesmo assim, ela começou a construir uma carreira, começando com o menor dos papéis em Super 8, de J.J. Abrams. “Eu não falei e era  a mãe morta“, diz ela rindo, “mas pelo menos passei um dia com J.J. Você meio que sente tipo, ‘bem, se aquela pessoa que é realmente incrível e bem-sucedida lhe dá uma espécie de selo de aprovação, então talvez isso signifique algo’.

Os trabalhos menores continuaram vindo por um tempo, mas então as coisas pararam. Um dia, Balfe estava em um parque para cães com uma amiga quando seu agente ligou para ela e a largou. Naquela época, ela não trabalhava há cinco ou seis meses. No início, “Ele ficava me dizendo, ‘Você tem que usar o vestido e colocar a maquiagem e fazer aquela coisa de garota gostosa’. E isso não era eu”, ela diz. “Estou feliz por saber que queria fazer isso com integridade, se isso faz algum sentido.

A convicção de Balfe começou a titubear e ela considerou desistir de atuar. Quando a convocação para o elenco de Outlander veio, “foi mais uma audição entre centenas“, ela diz. Mas em 2013, ela foi escalada para o papel principal de Claire, uma ex-enfermeira da Segunda Guerra Mundial na Escócia que é transportada de volta a meados do século 18, onde é jogada em um grupo de Highlanders rebeldes. Ela se apaixona por um dos homens, Jamie (interpretado por Sam Heughan). “Essa energia que ela tem, talvez seja o irlandês nela, porque ela tem grande inteligência e sagacidade, essa energia realmente funciona para a Claire“, diz Heughan sobre Balfe. “Ela nunca vai obedecer ordens. Ela sempre vai se defender.”

Outlander permitiu que Balfe mostrasse sua versatilidade em uma série que exige força física, charme, sagacidade e profundidade e as ofertas surgiram. Mas como filmar uma temporada de Outlander na Escócia leva de 9 a 12 meses, nunca resta muito tempo para ela aceitar outras oportunidades. “A beleza dessa série é que ela abriu muitas portas. A parte difícil é que não temos tempo para realmente aproveitar isso“, diz Balfe. Ela foi capaz de filmar Jogo do Dinheiro, de Jodie Foster, entre as temporadas um e dois e estrelou ao lado de Christian Bale em Ford v Ferrari, indicado ao Oscar, entre as temporadas quatro e cinco, a última que lhe trouxe alguns elogios da crítica por elevar o que poderia ter sido um papel comum de “esposa”.  O diretor de Ford v Ferrari, James Mangold, diz: “O que quer que tenha sido dito para mim antes de eu conhecer Caitríona, ‘Ela está nesta série de TV do momento, com grande número de seguidores, é ex-modelo’, isso geralmente é o tipo de coisa que me desanima. Mas o que encontrei foi uma atriz simplesmente notável: presente, destemida, emocionalmente vulnerável e inteligente.

Outlander tem um grupo de fãs apaixonados e o novo nível de fama também trouxe desafios, especialmente no que diz respeito à vida pessoal de Balfe. Embora ela estivesse grávida durante as filmagens da sexta temporada (que estreia em 6 de março), ela conseguiu manter as notícias fora das redes sociais. Muitos fãs ficaram surpresos quando ela anunciou o nascimento de seu filho com uma imagem simples em preto e branco de uma mãozinha segurando a dela, em 18 de agosto. “Sou uma pessoa muito aberta“, diz ela. “Não é como se eu estivesse escondendo minha gravidez. Todos no trabalho sabiam, todos os meus amigos sabiam, qualquer pessoa com quem eu tive contato na minha vida sabia. Mas em termos de divulgar, não vejo valor nisso. Acho que há certas coisas que é bom manter para você.

Ela tem um motivo para ser um pouco mais protetora, devido a um grupo de fãs obcecados com a ideia de que Balfe e Heughan estão romanticamente envolvidos na vida real. Esses fanáticos têm teorias da conspiração, incluindo uma propondo que o bebê dela é filho de Heughan porque os lençóis na foto do bebê parecem semelhantes aos vistos em uma foto que Heughan postou. Balfe conta que depois de se casar com o marido, o empresário musical escocês Anthony McGill, em 2019, ela descobriu que alguém havia ligado para atormentar a secretária da igreja onde a cerimônia foi realizada; eles não acreditavam que o casamento dela era real. Ela também soube que investigadores particulares foram contratados para “resolver” o caso e provar definitivamente que ela está envolvida com Heughan.

Quando você tem um filho, você se torna muito protetora“, diz Balfe. “Eu não quero aqueles malucos, porque é isso que eles são, eu só não quero que eles falem sobre ele.” Portanto, você não encontrará o nome do filho dela neste artigo e não encontrará fotos dele nas redes sociais. Ser mãe pela primeira vez exigiu uma camada adicional de armadura para Balfe: “É triste, porque você conhece as pessoas mais adoráveis, que são fãs da série e são super apoiadoras e fazem as coisas mais legais, e daí há aquela coisinha, o que simplesmente estraga isso.

Esse fogo materno para proteger seu filho a todo custo é exatamente o que move Ma, em Belfast. Em certas cenas, ela está literalmente bloqueando o perigo de seu filho. Logo no início, quando um motim irrompe em sua pitoresca cidade, Ma pega seu filho Buddy (Jude Hill) da rua e usa uma tampa de lata de lixo para protegê-lo do perigo enquanto o leva para casa em segurança. Branagh diz que Balfe tinha o equilíbrio entre inteligência e charme com a força necessária para essa personagem, que é vagamente baseada em sua própria mãe. “Você tem essa mulher quieta, engraçada e brincalhona do outro lado de sua presença“, ele diz. “E na outra, você tem esse tipo de mulher Cleópatra, Boudicca, leão, você simplesmente não mexeria com ela, nunca. Quando ela acessa isso, esta mulher bonita, engraçada, educada, gentil e quieta arrancaria sua cabeça.

Durante as filmagens de Belfast, que foi um dos primeiros projetos a serem filmados na Europa perto do auge da pandemia da COVID-19, Balfe considerou sua própria mãe, que teve que arrancar sua família de Dublin e se mudar para perto da fronteira. “Eu penso muito sobre o quão difícil deve ter sido para ela e as lutas que ela fez para tomar essa decisão“, ela diz. Ela descobriu que Ma tinha uma contradição interessante no cerne de sua personagem: “Em seu próprio espaço e nesta pequena comunidade, ela era muito confiante e estava muito confortável. Mas ainda assim ela era uma garotinha, porque você a tira disso, e ela estava com tanto medo. O mundo exterior era tão estranho para ela.

Ao contrário de Ma, Balfe se sente em casa no mundo exterior há mais de duas décadas. Ela reside principalmente em Glasgow por causa da agenda de produção exigente de Outlander. Balfe diz que não tem certeza de quando a série, que gravará sua sétima temporada no final de 2022, terminará, mas acrescenta, “Teremos atingido a marca de quase 10 anos no final disso, o que parece um bom período de tempo, mas não sabemos. Essas decisões estão muito acima do meu nível salarial.

Mas ela acabará eventualmente e então a agenda de Balfe se abrirá bastante. Ela espera fazer teatro e mergulhar em outros papéis substanciais no cinema, mas mais do que qualquer coisa que ela espera dirigir. “É algo que venho falando em fazer na série. Isso está sendo um pouco ignorado,” ela diz, acrescentando que havia um plano para ela dirigir alguma coisa na sexta temporada, mas a pandemia, seu papel principal e sua gravidez complicaram a logística. Claramente frustrada, Balfe diz que não ouviu nada sobre dirigir na próxima temporada, mas sente que é improvável a esta altura. “Teria sido a chance perfeita para mim em um espaço muito seguro“, ela diz. “Sou muito próxima de toda a nossa equipe de filmagem, eles sempre conversam sobre quais lentes estão usando e qual é o enquadramento e sempre são muito úteis em me fornecer o máximo de informações que desejo. É uma pena, mas não depende de mim.

Ela falou com Branagh, enquanto estavam filmando Belfast, sobre seu desejo de dirigir. Ele faria sentido como um mentor, sendo ele mesmo um ator. “Eu particularmente ficaria muito fascinado em vê-la dirigir“, ele diz. “Porque essa inteligência emocional compassiva e intelecto genuíno e significativo, acho que também será uma ótima voz para contar histórias no futuro.

E no set de Belfast, ela percebeu algo digno de atenção sobre a equipe de Branagh: havia um número significativo de mulheres na equipe, algo que ela não tinha visto em Outlander. A disparidade era tão perceptível que ela disse há cerca de dois anos que ela e Heughan conversaram com os executivos da série sobre diversificar a equipe em termos de gênero e raça. “Acho que por um lado há essa ideia, ‘Bem, a Escócia é um lugar predominantemente branco e é uma indústria que tradicionalmente é muito mais masculina, então é difícil encontrar essas pessoas’. Não tenho certeza se isso é necessariamente verdade. Acho que há maneiras de encontrar pessoas para trazer.

Ter um filho também deu a Balfe algumas ideias sobre as razões pelas quais os homens continuam a dominar as produções. “Quando você atinge uma certa idade, se você quer ter uma família, você acaba saindo dessa escada e acho que é muito difícil para elas voltarem“, ela diz. “Isso é algo que precisamos abordar como indústria, porque vejo nossa equipe de filmagem, todos caras incríveis, todos eles se tornaram pais nos oito anos que estivemos filmando, mas nenhum deles teve que desistir de sua posição.

Seja para qual for a direção que ela vá a seguir, as escolhas serão influenciadas não apenas pelo que ela deseja para sua carreira, mas também pelo o que é melhor para sua nova família de três pessoas. “Eu estava conversando com meu agente outro dia [sobre um trabalho] e pensei, ‘Bem, vamos começar com quando e onde’. Por quanto tempo e onde se tornou uma espécie de marcador inicial para se as coisas são ou não possíveis,” ela diz. Promover Belfast provavelmente manterá Balfe muito ocupada durante o Oscar e depois ela espera passar um tempo tranquilo em casa, que é, por enquanto, em Glasgow. Isso é outra coisa que poderia mudar quando Outlander finalmente acabar e é um problema com o qual Belfast luta profundamente. Se você sai de casa, onde é seu lar? Essa é uma questão que Balfe tem enfrentado desde que ela se mudou, muito jovem.

É engraçado, não sei onde é a minha casa,”  ela diz. “Desde que saí da Irlanda, tenho me mudado constantemente. Acho que definitivamente são as pessoas com quem você está agora. Mas, quando se trata de um lugar, eu nunca realmente criei raízes desde então. Acho que você nunca se sentirá tão ligado a um lugar como quando se é criança, sabe?

Cabelo: Gareth Bromell; maquiagem: Mary Wiles; manicure: Emi Kudo; trajes: Elma Click; design do set: Colin Phelan.

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