The Guardian: Caitríona Balfe, estrela de ‘Belfast’ fala sobre a fama, família e fãs

  • 26 de janeiro de 2022

Caitríona Balfe estampou a capa da revista do jornal inglês The Guardian do último domingo e foi entrevistada por Tim Lewis, quando falou sobre seu mais novo filme aclamado pela crítica, Belfast, a família, a fama e seus fãs. Confira! O ensaio fotográfico que acompanha a matéria pode ser conferido em nossa galeria e através dos links no final da página.

CaitrÍona Balfe é a brilhante estrela de Belfast, de Kenneth Branagh, que pode ser indicado ao Oscar. Ela fala sobre como a modelar quase a destruiu, criar um vínculo no set com Judi Dench e sua infância durante os Conflitos
por Tim Lewis

Caitriona Balfe consegue se lembrar do momento exato em que percebeu que estava cansada de ser modelo. Era meados dos anos 2000 e Balfe tinha uns 27 anos, ela acha. Fazia quase uma década desde que ela havia sido abordada em um supermercado de Dublin, enquanto chacoalhava uma lata para uma instituição de caridade para esclerose múltipla. Ela tinha se saído muito bem, desfilando para Louis Vuitton e Chanel, passando rapidamente entre Paris, Milão e Nova York. Balfe e suas amigas se autodenominavam “as modelos de colarinho azul” – elas não eram o 0,1% das supermodelos, os nomes conhecidos, mas as próxima da lista.

Agora, porém, Balfe estava em Dallas, fazendo um ensaio bem pago, mas sem graça, para um catálogo. Após cada montagem, um produtor tocava um pequeno sino para indicar que eles precisavam se trocar rapidamente com a próxima roupa. Na idade dela, naquele negócio viciado em jovens, Balfe sabia que o tempo estava correndo. Ela lidou com a quantidade de rejeição direta que poderia aguentar por uma vida toda. “Os desfiles eram divertidos e empolgantes, mas com catálogos, você fica parado como um varal de roupas – literalmente“, diz Balfe. “E sabe, ‘Isso não é o que eu quero fazer da minha vida.’

Ser modelo faz duas coisas“, continua Balfe, com uma risada irônica. “Te dá um exterior muito, muito resistente e, mas um interior realmente quebrado. A experiência de cada um é diferente, mas sei que minha confiança e minha autoestima, quando terminei, estava no banheiro. Estar nisso por tanto tempo pode te deixar bastante confuso por um tempinho.

É apenas um pequeno spoiler mencionar neste momento que as coisas acabaram dando muito bem para Balfe, que agora tem 42 anos. É por isso que estamos sentados esta manhã no início de dezembro em um hotel muito luxuoso em Londres, compartilhando uma garrafa de água mineral que custa apenas um pouco menos do que uma garrafa de vinho decente. Ela está usando um vestido midi e bem largo da grife Lauren Manoogian e é a primeira pessoa que conheci que faz uma máscara ser glamorosa. Agora sabemos que, depois de deixar de ser modelo, Balfe estrelaria em cinco temporadas e contando de Outlander, a popular série de TV. No final da tarde, ela descobrirá que foi indicada ao Globo de Ouro por sua brilhante atuação em Belfast, o novo filme de Kenneth Branagh. Presume-se (pelos críticos e praticamente todos os outros, exceto Balfe) que uma indicação ao Oscar acontecerá no próximo mês.

Mas de volta a Dallas, na sessão de fotos do catálogo, a transição não parecia tão óbvia. Antes do “desvio” de Balfe para a moda, ela havia estudado atuação no Instituto de Tecnologia de Dublin e, depois de largar a carreira de modelo, retomou os estudos, frequentando aulas em Nova York. “Alguém deveria colocar uma câmera em uma dessas salas“, ela diz. “Era uma insanidade absoluta!” Ela conseguiu um trabalho piscou-e-perdeu como figurante no filme de 2006 de Meryl Streep, O Diabo Veste Prada, no qual ela acha que suas pernas podem ser vistas na cena de abertura, numa coleção de pés em saltos que estão entrando nos escritórios da revista Runway. Balfe não podia ser muito exigente naquela época, mas ela aprendeu que eram esses tipos de papéis que ela não deveria ir atrás.

Muitos atores costumavam trabalhar em bares ou costumavam ser isso ou aquilo, mas você vem com muito estigma quando se é modelo“, ela diz. “E isso é uma coisa difícil de superar, sendo a primeira coisa que as pessoas acharam de mim.

Havia muitas rejeições como atriz, também (talvez até mais do que na moda), mas Balfe achou isso, de alguma forma, mais palatável: pelo menos ela geralmente abria a boca antes de ser preterida. “Em uma audição, se não deu certo, nem sempre foi porque você não fez um bom trabalho ou não foi bom“, ela argumenta. “Foram outras coisas arbitrárias, do tipo seu nome não ser grande o bastante. O que também pode destruir a alma, mas não sei, é diferente.

Depois de alguns anos, Balfe foi escalada para o piloto de uma nova série sobre uma enfermeira militar da Segunda Guerra Mundial, Claire Randall, que se vê transportada de volta no tempo para as Terras Altas da Escócia em 1743. “Foi um jogo de dados total“, diz Balfe. . “Eu tinha feito alguns trabalhos, nada digno de nota, de verdade. Eu estava morando em Los Angeles e estava realmente em dificuldade, na verdade, fazia cerca de quatro ou cinco meses desde que eu tive um emprego.” Ela gravou uma audição e não ouviu nada. Ela conseguiu um novo agente, enviou outra fita, ainda nada. Ela marcou férias com amigos para a Índia. Foi enquanto o passaporte dela estava na embaixada indiana que Balfe soube que ela precisava ir a Londres, tipo agora, para um teste final de tela.

Outlander construiu uma base de fãs dedicada ao longo de cinco temporadas na Amazon Prime no Reino Unido e no canal Starz nos EUA. Mas em 2013, Balfe não fazia ideia se a série sobreviveria além do piloto. “Então eu assinei [um contrato] por seis temporadas naquela época,” ela diz. “Tipo, você está quebrado, você não tem mais nada acontecendo. Meu advogado disse: ‘Você percebe que isso gravará na Escócia? Você vai ficar lá por um ano para a primeira temporada?’ Eu fiquei tipo, ‘Um ano é ótimo, uma mudança de cenário, não estou fazendo muito em LA mesmo.’ É, eu não sabia que ainda estaria lá quase oito anos e meio depois.

Tudo isso para observar que, à medida que as indicações aos prêmios chegam para Belfast, talvez até colocando-a contra Streep na categoria de melhor atriz coadjuvante, Balfe não é um sucesso da noite para o dia. “Sinto que estou naquele lugar da vida onde, o que está acontecendo agora, sei que não acontece o tempo todo”, diz Balfe. “É legal, mas não significa que você é superimportante.

Balfe nasceu em 1979 e cresceu em Tydavnet, uma cidadezinha na zona rural da Irlanda, não muito longe da fronteira com a Irlanda do Norte. Seu pai era um sargento de polícia, um trabalho difícil e muitas vezes impopular no auge dos Conflitos, e sua mãe cuidava principalmente de seus cinco filhos (Balfe era a quarta) e dois filhos adotivos. Ela tem refletido muito sobre esse período, desde que leu o roteiro de Belfast, que Branagh escreveu sobre sua própria infância na cidade na década de 1960.

Para Balfe, houve o momento em que ela estava no carro com seu primo e eles foram parados em um posto de controle por um soldado britânico com uma arma. Isso era uma ocorrência regular para Balfe, mas seu primo, de Kildare, não fazia ideia do que estava acontecendo. “Ela começou a surtar e estava chorando e gritando: ‘Não atire na minha mãe! Não atire na minha mãe!’“, diz Balfe. “Não foi apenas a experiência dela.” Outra vez, quando ela tinha 11 ou 12 anos, Balfe fugiu para o último andar de um café nas proximidades de Monaghan com uma amiga para fumar cigarros, quando ela desceu houve um susto de bomba e a cidade foi esvaziada.

Minha irmã deveria estar cuidando de mim e obviamente estava procurando por mim há muito tempo”, diz Balfe. “Então ela ficou com medo e quando me encontrou, me deu um tapa. Quando eu conto essa história, minha irmã sempre fica tipo, ‘Eu não posso acreditar que você está me acusando de abuso infantil!’

O filme de Branagh centra-se em Buddy, um menino de nove anos de idade efervescente de uma família protestante, interpretado por Jude Hill. Seu Pa (Jamie Dornan) trabalha como marceneiro na Inglaterra, como o próprio pai de Branagh, enquanto sua Ma (Balfe) faz todo o resto em casa. A história se passa em 1969, no momento em que as barricadas estão surgindo nas ruas de Belfast, separando católicos e protestantes que antes viviam cordialmente como vizinhos. Pa quer que a família se mude para a Inglaterra ou Canadá ou Austrália, onde estão o trabalho e o dinheiro, mas Ma é mais resistente, querendo ficar com os amigos e os avós de Buddy (Judi Dench e Ciarán Hinds).

Isso pode parecer uma premissa desoladora, mas Belfast é um dos filmes mais calorosos e encantadores que você verá este ano. Com trilha sonora de Van Morrison, há nostalgia, mas também um reconhecimento de que, por mais sombrios que os Conflitos se tornaram, também houve afeição, generosidade e até remorso pelo que estava acontecendo.

É estranho, porque obviamente parte do material é tão pesado, mas porque é feito através dos olhos de uma criança, nunca parece assim“, diz Balfe. “É tão alegre, você sai daquele filme se sentindo… completo.

Branagh fez questão de recrutar atores que trariam uma revelância pessoal ao filme: Dornan e Hinds são de Belfast; a mãe de Dench era de Dublin. A primeira vez que eles se reuniram, Branagh os encorajou a compartilhar histórias de seus próprios pais e criação. “Então, não estou pensando em Judi Dench como Dame Judi Dench, a titã da atuação, mas estou pensando na garotinha e suas histórias“, diz Balfe. “Isso simplesmente nivela todo mundo. E acho que todos nós entendemos algo um do outro, todos saímos de casa e não voltamos.

A Ma de Balfe é amorosa, mas feroz, com uma sagacidade e pragmatismo que garante que o filme não se torne uma bobagem. “Para Ma, ela traz uma generosidade de espírito que faz com que a personagem envolva o público sem ser insinuante“, diz Branagh. “A outra qualidade que ela tinha que certamente estava presente em minha mãe, provavelmente na mãe de todo mundo, foi uma ferocidade de paixão ao proteger seus filhos. Você não vai querer estar no caminho de Caitríona: ela é uma pessoa muito atenciosa, muito ponderada, mas há uma leoa a um centímetro da superfície. Eu a queria do meu lado em uma briga. Sem dúvida.

Belfast chega em um momento movimentado, talvez até caótico, profissional e pessoalmente, para Balfe. Em agosto passado, ela e seu marido, o produtor musical Tony McGill, tiveram seu primeiro filho, um menino. Balfe está bem ciente da conversa sobre prêmios para o filme, mas a vida em casa, trocar fraldas, dormir quando pode, fornece alguma perspectiva caso ela se empolgue demais pensando em pequenas estátuas de ouro.

Felizmente, estou fazendo muito isso [trocar fraldas], então não estou pensando muito nos prêmios: é mais ‘Pare de fazer xixi em mim!'”, ela exclama. “Não, se isso acontecesse, eu ficaria muito animada, mas não acho que você possa perseguir essas coisas, porque isso realmente te deixa louco.

Balfe e McGill vivem uma existência “nômade”, passando um tempo em Londres e Los Angeles, mas vivendo a maior parte do ano em Glasgow, enquanto ela filma Outlander. A sexta temporada dessa série retornará em 6 de março, encerrando um hiato que os fãs leais chamaram de “Droughtlander”. Foi uma temporada de testes de se filmar, no inverno de 2021. Havia protocolos Covid e o clima da Escócia para enfrentar. O material também era desafiador: no final da quinta temporada, a personagem de Balfe, Claire, foi brutalmente estuprada, e houve um acerto de contas profundo, psicológico e físico que veio com isso. Tudo enquanto a própria Balfe estava grávida.

A história de Claire foi muito pesada nesta temporada“, diz Balfe. “E é um material muito pesado, também. Então eu fiquei tipo, ‘Seu corpo sabe se você está fingindo estar estressada, chateada e com raiva? Porque você está passando por todas essas emoções para chegar a um estado em que você está chorando ou gritando ou assustada e houve momentos em que eu devia estar grávida de quatro ou cinco meses e estou correndo por aí atirando. E eu fico tipo, ‘O que essa criança pensa?’ Deve ser tipo, ‘Quem diabos é minha mãe? No meio do que estou nascendo?’

Belfast pode ser a introdução de algumas pessoas a Balfe, mas ela já tem seguidores leais graças a Outlander. Alguns estão lá desde o início, outros descobriram a série viciante durante o distanciamento social. Um sinal de sua popularidade vem a cada ano no aniversário de Balfe: 4 de outubro. Em 2020, quando ela completou 41 anos, um grupo de fãs decidiu plantar 41 árvores em sua homenagem. (Por que árvores? Balfe não tem certeza, mas ela segue a instituição de caridade One Tree Planted, que planta uma árvore nativa para cada US$ 1 doado, no Instagram.) Isso rapidamente se tornou 410 árvores e, quando Balfe e seu colega de Outlander Sam Heughan deram o seu apoio, tudo ficou um pouco louco. Naquele ano, mais de 55.000 árvores nativas foram plantadas, em todos os lugares, de Uganda aos Andes. Um número semelhante seguiu em 2021, criando uma “Balforest” de mais de 100.000 árvores.

Isso não é nada“, diz Balfe. “Às vezes as pessoas desprezam séries como essa e fandoms como esse, mas eles são incríveis. E é engraçado, eu digo que às vezes parece que tenho milhares de mães de palco. Da forma mais bonita. Qualquer coisa que eu faça, eles estão lá e tipo, ‘Vá em frente!’

Quanto ao que vem a seguir, Balfe começou recentemente a filmar a sétima temporada de Outlander. Diana Gabaldon, a ex-roteirista da Disney cujos romances inspiraram a série, sugeriu que haverá 10 livros na série, mas no momento Balfe e Heughan se comprometeram apenas com sete. Balfe gostaria de dirigir e escolheu o romance de Sara Crossan, Here is the Beehive, para potencialmente produzir e estrelar. Mas antes disso, ela tem um bebê para cuidar e uma temporada de premiações para enfrentar. É improvável que a Balfe fique sem ofertas depois disso.

Para alguém que começou na indústria tão tarde, tem sido incrível“, diz Balfe, um pouco perplexa com o caminho que está trilhando. “Eu não sei, eu tive muita sorte.

Belfast está nos cinemas agora no Reino Unido. No Brasil, estreará em 10 de março e em seguida no serviço on demand do Telecine.

Confira o ensaio fotográfico que acompanha a matéria, feito por Jason Hetherington.

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Editor de moda: Jo Jones; maquiagem por Mary Wiles da One Representa usando Kat Burki Skincare; cabelo por Gareth Bromell da Premier Hair and Makeup usando Sisley Haircare; unhas por Robbie Tomkins da Premier Hair and Makeup usando Dior Manicure Collection e Miss Dior Hand Cream; técnico digital: Andy Mayfield; assistente de fotógrafo: Alfie Bungay; assistente de moda: Peter Bevan; ensaio feito no estúdio Big Sky.